20 pessoas morreram e várias ficaram feridas quando um camião carregado com alimentos tombou sobre uma multidão na Faixa de Gaza. A informação foi avançada esta quarta-feira (6) pela Defesa Civil do território, estrutura controlada pelo Hamas.
Acidente durante a distribuição de ajuda
O veículo capotou na área de Nuseirat, no centro de Gaza, onde centenas de civis aguardavam a entrega de mantimentos. Segundo o porta-voz da Defesa Civil, Mahmud Bassal, o peso da carga desequilibrada provocou a queda do camião, esmagando pessoas que se encontravam junto da estrada.
O incidente surge num momento em que as limitações ao acesso de bens essenciais mantêm largas faixas da população em situação de insegurança alimentar aguda. Testemunhas referem que a aglomeração foi motivada pela escassez prolongada de géneros básicos, forçando os residentes a reunir-se sempre que circula um veículo com mantimentos.
Medidas de Israel e reacções em Gaza
Na véspera do acidente, Israel anunciara a reabertura parcial da fronteira para a entrada de mercadorias destinadas ao comércio local, decisão que interrompeu meses de bloqueio quase total. Entre os produtos agora autorizados constam cereais, comida para bebés, fruta, legumes e artigos de higiene. O pagamento das mercadorias deve ser feito exclusivamente através de transferências bancárias sujeitas a fiscalização, indicou o Coordination of Government Activities in the Territories (COGAT), organismo do Ministério da Defesa israelita.
O Hamas acusa Telavive de “obstruir deliberadamente” o percurso seguro dos camiões de ajuda, obrigando os motoristas a escolher rotas congestionadas por civis famintos. De acordo com o movimento, esta dinâmica leva as multidões a avançar sobre os veículos para recolher a carga à força, aumentando o risco de acidentes como o de Nuseirat. O Exército israelita declarou que está a verificar os relatos.
Crise humanitária prolongada
A escassez de alimentos é acompanhada por uma grave falta de água potável. Organizações humanitárias calculam que cada residente de Gaza dispõe de apenas 3 a 5 litros de água por dia, muito abaixo dos 15 litros considerados mínimos em situações de emergência. Em contraste, o consumo médio no Brasil atingia 154 litros diários em 2018, segundo dados da ONU.
Grande parte da água actualmente disponível provém de pequenos sistemas de dessalinização geridos por agências de ajuda, mas a maioria continua a ser retirada de um aquífero salobro cada vez mais contaminado por esgotos e resíduos químicos. A destruição das infra-estruturas de saneamento e a falta de combustível para alimentar geradores agravam a situação, favorecendo a propagação de doenças como diarreia e hepatite.

Imagem: noticiasaominuto.com.br
O COGAT afirma manter em funcionamento dois oleodutos de água que, juntos, forneceriam milhões de litros diários ao enclave. Responsáveis palestinianos contestam essa informação e garantem que os dutos deixaram de operar nas últimas semanas devido a avarias por reparar.
Retrato diário da escassez
Para muitos habitantes, garantir água e comida tornou-se uma tarefa que consome todo o dia. Moaz Mukhaimar, de 23 anos, caminha cerca de um quilómetro até um ponto de abastecimento, onde chega a esperar duas horas para encher recipientes que transporta num pequeno carrinho de mão. Repete o percurso até três vezes por dia para suprir as necessidades de 20 familiares que vivem em tendas improvisadas em Deir al-Balah.
A organização Oxfam alerta que doenças associadas à água contaminada “estão a espalhar-se rapidamente por Gaza”, situação que se agrava com a falta de instalações sanitárias adequadas nos abrigos temporários. O mesmo grupo sublinha que o aumento do fluxo de ajuda internacional continua essencial, mas só surtirá efeito se houver garantias de distribuição segura e regular.
Com o acidente de Nuseirat, a pressão sobre Israel e sobre o próprio Hamas intensificou-se. Parceiros internacionais pedem corredores humanitários eficazes e mecanismos de supervisão que evitem tanto a repetição de tragédias como a continuação da penúria crónica que há meses domina a Faixa de Gaza.

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