Acusadora pede liberação de documentos sobre Jeffrey Epstein e critica condução do caso

Annie Farmer, uma das primeiras mulheres a denunciar Jeffrey Epstein e testemunha-chave no julgamento de Ghislaine Maxwell, voltou a pedir que o governo dos Estados Unidos divulgue todos os arquivos relacionados às investigações sobre a rede de exploração sexual operada pelo financista. O apelo foi feito em entrevista concedida nesta segunda-feira, em Nova York, na qual a psicóloga afirmou que a falta de transparência provoca desgaste emocional nas vítimas e alimenta disputas políticas.

Farmersustenta que, se não houver “nada a esconder”, os registros deveriam ser tornados públicos de forma completa. Segundo ela, a sucessão de anúncios e recuos sobre a liberação de documentos, especialmente durante o governo do ex-presidente Donald Trump, transformou o caso em pauta de interesse eleitoral, mas produziu poucos resultados concretos para quem sofreu abusos.

A trajetória de Annie Farmer no caso começou em 1996, quando ela e a irmã Maria procuraram a Polícia de Nova York (NYPD) e o FBI para relatar as primeiras ocorrências conhecidas contra Epstein. Décadas depois, Maxwell, associada do financista, foi condenada por tráfico sexual, decisão considerada pela psicóloga a única vitória efetiva até agora. Maria Farmer, por sua vez, move processo contra o governo federal por suposta negligência e falha na proteção das vítimas.

A entrevista ocorre em meio a novo debate sobre documentos sigilosos. Durante a campanha presidencial, Trump prometeu “desclassificar” informações referentes à rede de Epstein, compromisso que mobilizou parte da base do movimento Make America Great Again (MAGA). Nos meses seguintes, o ex-presidente alternou declarações: primeiro indicou que divulgaria material adicional, depois afirmou que não existiriam arquivos relevantes e, recentemente, passou a defender a publicação de depoimentos do júri que conduziu o caso.

Annie Farmer avalia que essa mudança de discurso gera expectativas irregulares e afeta diretamente quem busca respostas. Ela também expressa ceticismo quanto ao apoio de Trump às vítimas, citando a convivência do ex-presidente com Epstein nas décadas de 1990 e 2000. A Casa Branca rebateu por meio do diretor de comunicação, Stephen Cheung, que declarou que Trump expulsou Epstein de seu clube por comportamento inadequado e classificou as alegações como “notícias falsas recicladas”.

Outro ponto de tensão envolve a existência, ou não, de uma lista de clientes de Epstein. O Departamento de Justiça afirmou recentemente que não encontrou evidências de que esse documento fosse mantido. Trump disse que a procuradora-geral Pam Bondi deve liberar qualquer informação que considere credível e questionou a real relevância dos arquivos. Para Annie Farmer, porém, o escopo do inquérito é “mais complexo do que uma lista de clientes” e ainda há perguntas sem resposta.

O clima de incerteza se intensificou em maio, quando Maureen Comey, promotora que atuou nos processos de Epstein e Maxwell no Distrito Sul de Nova York, foi dispensada do cargo. As autoridades não informaram o motivo, e a própria Comey declarou publicamente que não recebeu explicação. Farmer relatou ter conversado com outras sobreviventes que compartilharam a sensação de que a demissão ocorreu em momento inoportuno e levantou dúvidas sobre a continuidade das investigações.

A acusadora também se disse preocupada com pedidos de grupos marginais para que Maxwell seja perdoada a fim de prestar depoimento ao Congresso. Na avaliação dela, um eventual perdão representaria “perda irreparável” para quem aguarda responsabilização completa dos envolvidos.

Outro fator que a motivou a falar foi a morte, em abril, de Virginia Giuffre, considerada uma das denunciantes mais proeminentes contra Epstein. Giuffre se suicidou, e o episódio, segundo Farmer, reacendeu a necessidade de compreender onde o sistema judiciário falhou e como evitar novas perdas.

Com a aproximação das eleições e a persistência de questionamentos, Annie Farmer reafirma que a divulgação integral dos arquivos é passo fundamental para esclarecer a extensão da rede criminosa e impedir que o tema seja utilizado apenas como ferramenta política. Para as vítimas, conclui, o objetivo principal permanece: obter respostas factuais sobre como Jeffrey Epstein pôde operar durante tanto tempo e quem se beneficiou de seus crimes.

Fonte: BBC News

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