Centenas de libaneses concentraram-se esta segunda-feira, 5 de agosto, junto à costa de Beirute para recordar a explosão de 2020 no porto da capital, que causou mais de 200 mortos e é considerada uma das maiores detonações não nucleares da história.
Cerimónia junto ao porto
Empunhando bandeiras nacionais e retratos das vítimas, os presentes prestaram homenagem às 18:07, hora exata em que, há cinco anos, o incêndio num armazém detonou centenas de toneladas de nitrato de amónio. Os nomes de todos os falecidos foram lidos perante os silos de cereais, ainda parcialmente destruídos, enquanto os participantes mantiveram um minuto de silêncio.
William Noun, cujo irmão Joseph — bombeiro — morreu na explosão, questionou do palco: “Por que continuamos aqui cinco anos depois?”. O familiar insistiu no encerramento do processo judicial: “Não queremos chegar ao sexto ano nesta situação”.
Entre a multidão encontrava-se Catherine Otayek, libanesa de 30 anos a viver em França, que regressa anualmente para a cerimónia. Sem ter perdido familiares, considera a presença “um dever para com o país”.
Investigação continua bloqueada
As autoridades prometeram em 2020 concluir a investigação em cinco dias, mas sucessivos obstáculos legais e interferência política mantiveram o processo paralisado. O juiz Tarek Bitar retomou o inquérito no início deste ano e interrogou vários responsáveis, contudo ainda não apresentou a acusação preliminar esperada pelas famílias.
Paul Naggear, pai de Alexandra, criança de três anos que não resistiu aos ferimentos, exige respostas sobre as ordens de evacuação que poderiam ter salvado vidas. “Queremos um despacho de acusação completo”, declarou.
A campanha internacional por responsabilidade tem sido liderada por organizações de direitos humanos. Para Reina Wehbi, da Amnistia Internacional, “justiça adiada é justiça negada”, sublinhando que as vítimas não podem enfrentar mais um ano de impunidade.
Compromissos políticos recentes
O presidente Joseph Aoun e o primeiro-ministro Nawaf Salam, em funções desde o início de 2024, prometeram priorizar o assunto. Apesar de não terem marcado presença na vigília, Aoun garantiu na segunda-feira que irá responsabilizar os envolvidos “independentemente do cargo ou filiação política”.

Imagem: Hassan Ammar via globalnews.ca
A explosão agravou uma crise económica já instalada e foi seguida, em 2023, por confrontos entre o Hezbollah e Israel, dificultando ainda mais a recuperação do país. Cinco anos depois, vastas zonas da capital continuam danificadas e dezenas de milhares de habitantes não regressaram às suas casas.
Contexto da catástrofe
Segundo as autoridades, o sinistro foi provocado por um incêndio no armazém 12 do porto, onde estavam armazenadas cerca de 2 750 toneladas de nitrato de amónio desde 2014. A deflagração gerou uma onda de choque equivalente a um sismo de magnitude 3,3, destruindo bairros inteiros e causando prejuízos estimados em milhares de milhões de dólares.
Até ao momento, nenhum alto responsável foi condenado. Vários ex-ministros e oficiais contestaram judicialmente as decisões do juiz Bitar, o que paralisou repetidamente o processo. Famílias acusam a classe política de obstruir a justiça para evitar revelações sobre alegada negligência na armazenagem do material explosivo.
Persistência das famílias
Organizados em associações, os parentes das vítimas mantêm uma agenda regular de protestos e pedidos de apoio internacional. A vigília desta segunda-feira reiterou a exigência de um inquérito transparente e independente capaz de identificar toda a cadeia de responsabilidades.
“Se todos se unirem a esta causa, quem ficará contra nós?”, questionou William Noun, apelando à sociedade libanesa para manter a pressão sobre as instituições estatais.
Cinco anos após a tragédia, o Líbano continua sem conclusões oficiais sobre as causas e os responsáveis pela explosão. As famílias prometem não desistir até que o processo judicial seja concluído e os culpados sejam levados a tribunal.

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