Canadá e México reforçam cooperação enquanto EUA aplicam tarifas de 35 %

A ministra dos Negócios Estrangeiros do Canadá, Anita Anand, e o ministro das Finanças, François-Philippe Champagne, terminaram uma visita de dois dias à Cidade do México centrada no crescimento económico, comércio e segurança na América do Norte. O encontro decorreu poucos dias depois de Washington impor um direito aduaneiro de 35 % sobre produtos canadianos que não cumpram o Acordo Canadá-Estados Unidos-México (CUSMA), ao passo que o México obteve um adiamento de 90 dias relativamente às mesmas sanções.

Tarifas contrastantes e relações distintas

Questionada sobre a disparidade de tratamento por parte dos Estados Unidos, Anita Anand sublinhou que seria “superficial” comparar a abordagem de Ottawa com a da cidade do México, uma vez que as relações económicas de cada país com Washington diferem consideravelmente. Para a chefe da diplomacia canadiana, analisar cada negociação de forma isolada ignora a complexidade do “ecossistema” comercial norte-americano.

Na semana anterior, o presidente norte-americano Donald Trump justificara a moratória concedida ao México com a necessidade de negociar um novo acordo bilateral dentro de três meses, prazo que poderá servir igualmente de referência às pretensões canadianas. O Canadá, contudo, já foi alvo do aumento imediato de tarifas, o que suscitou dúvidas entre exportadores e líderes empresariais canadianos.

Troca de experiências e diversificação de parcerias

Durante a reunião ministerial, o secretário da Economia mexicano, Marcelo Ebrard, indicou que pretendia partilhar com Champagne as estratégias adoptadas pelo México para contornar eventuais medidas protecionistas dos Estados Unidos. “Querem saber de que forma obtivemos este resultado”, afirmou Ebrard, referindo-se à suspensão temporária das tarifas.

François-Philippe Champagne realçou, por seu turno, que a cooperação em áreas como energia e inteligência artificial faz parte da estratégia canadiana de diversificar parcerias, mitigando a imprevisibilidade da administração norte-americana. Segundo o governante, fortalecer a ligação ao México insere-se num plano mais amplo de salvaguarda dos interesses económicos canadianos.

Antecedentes políticos e impacto interno

O diferendo aduaneiro reacendeu posições internas no Canadá. No ano passado, o primeiro-ministro de Ontário, Doug Ford, defendeu um acordo comercial exclusivo com os Estados Unidos, argumentando que o México servia de “porta dos fundos” para a entrada de peças automóveis chinesas no mercado norte-americano. Essa sugestão recebeu apoio do então primeiro-ministro Justin Trudeau e da vice-primeira-ministra de então, Chrystia Freeland, actualmente ministra dos Transportes.

Entretanto, o primeiro-ministro Mark Carney confirmou que, após vários contactos indirectos com Donald Trump nas semanas que antecederam o agravamento tarifário, ainda não conversou directamente com o líder norte-americano sobre o novo imposto de 35 %. “Falaremos quando fizer sentido”, declarou em British Columbia.

Próxima revisão do CUSMA

O Acordo Canadá-Estados Unidos-México, em vigor desde 2020, prevê uma revisão obrigatória em 2025. Tanto Anand como Champagne reiteraram que o tratado continua a servir os interesses das três economias e deve ser preservado e reforçado. Na mesma linha, a presidente mexicana Claudia Sheinbaum publicou na rede social X que o encontro com os ministros canadianos “aprofundou a relação” entre os dois países.

Num comunicado posterior, Anita Anand referiu que a presença de Sheinbaum na última cimeira do G7, realizada no verão em Alberta, deu início ao “processo de reparação” das relações entre Otava e a Cidade do México, processo continuado nas reuniões desta semana.

Perspectivas imediatas

Com o adiamento concedido ao México a expirar dentro de três meses e a aplicação da tarifa de 35 % já em vigor para o Canadá, ambos os países enfrentam agora calendários de negociação diferentes, embora interligados. Os ministros canadianos deixam a Cidade do México com a intenção declarada de manter uma frente comum em defesa de um mercado norte-americano estável e previsível, ao mesmo tempo que procuram soluções bilaterais para mitigar o impacto das medidas de Washington.

Resta saber se os contactos diplomáticos previstos para as próximas semanas, tanto a nível ministerial como ao mais alto nível, serão suficientes para inverter ou suavizar as decisões tarifárias dos Estados Unidos e garantir a continuidade do CUSMA nos moldes actuais.

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