Um cessar-fogo alcançado entre a Tailândia e o Camboja entrou em vigor à meia-noite de terça-feira e, apesar de acusações mútuas de violações nas primeiras horas, manteve-se funcional durante o dia, permitindo que parte dos mais de 260 000 civis deslocados iniciasse o regresso às suas casas na zona fronteiriça.
Encontro de última hora selou acordo sem condições prévias
A trégua foi acertada na segunda-feira, em Kuala Lumpur, numa reunião mediada pelo primeiro-ministro da Malásia, Anwar Ibrahim, na qualidade de presidente anual da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN). O primeiro-ministro cambojano, Hun Manet, e o primeiro-ministro interino tailandês, Phumtham Wechayachai, concordaram com a suspensão incondicional das hostilidades que, desde quinta-feira, provocaram pelo menos 41 mortos.
Logo após a entrada em vigor, o exército tailandês acusou o Camboja de abrir fogo em vários pontos. Phnom Penh negou, mas ambos os comandos locais reuniram-se e ratificaram medidas para travar movimentos de tropas, evitar escaladas e criar equipas de coordenação antes da reunião bilateral de 4 de agosto, marcada para território cambojano.
Pressão económica dos EUA e observadores internacionais
O entendimento surgiu dias antes de Washington anunciar novas taxas alfandegárias, num contexto em que exportações de ambos os países enfrentam tarifas de 36 % a partir de sexta-feira. O secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, elogiou o acordo e referiu o compromisso de “cessação imediata da violência”. De acordo com Hun Manet, o ex-presidente Donald Trump felicitou telefonicamente os dois líderes e ofereceu apoio dos EUA no mecanismo de monitorização, ao lado da Malásia.
Banguecoque apresentou queixas formais à Malásia, aos EUA e à China contra alegadas violações cambojanas, enquanto o ministro da Defesa do Camboja, Tea Seiha, garantiu que o seu exército respeita integralmente o cessar-fogo. O governante anunciou ainda o envio de diplomatas e adidos militares estrangeiros para observarem a situação no terreno.
Populações regressam, mas desconfiança persiste
Nas províncias fronteiriças, o ambiente mantém-se cauteloso. Na província cambojana de Oddar Meanchey, famílias que cavaram abrigos contra artilharia começaram a voltar, embora temam novo eclodir de combates. Do lado tailandês, dirigentes comunitários relatam que, apesar do silêncio das armas desde a meia-noite, muitos residentes aguardam confirmação de estabilidade antes de abandonar centros de acolhimento.

Imagem: Heng Sinith via globalnews.ca
Conflito latente exige solução de fundo
Analistas regionais consideram o cessar-fogo frágil. As causas profundas — disputas ao longo de 800 km de fronteira e reivindicações sobre templos históricos — permanecem sem resolução. Especialistas alertam que o acordo poderá ruir se Banguecoque não alcançar condições comerciais mais favoráveis com Washington.
Os confrontos da semana passada eclodiram após a explosão de uma mina terrestre que feriu cinco soldados tailandeses. O incidente intensificou tensões já elevadas desde maio, quando a morte de um militar cambojano originou um impasse diplomático.
Para já, a região vive um recuo da violência, mas autoridades civis e militares admitem que a paz duradoura dependerá de negociações fronteiriças detalhadas e de um mecanismo de verificação robusto, capaz de garantir que o atual silêncio não seja apenas uma pausa temporária.

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