A coalizão formada pelo Partido Liberal Democrata (PLD) e pelo Komeito perdeu a maioria na Câmara Alta do Parlamento japonês nas eleições realizadas no domingo, 7 de julho, mas o primeiro-ministro Shigeru Ishiba anunciou que não pretende renunciar. O revés eleitoral aprofunda a fragilidade do governo, que desde o ano passado já não controlava a mais poderosa Câmara Baixa.
De acordo com a emissora pública NHK, com apenas uma cadeira ainda pendente de definição na manhã desta segunda-feira, a aliança governista contabilizava 47 assentos. Para manter o domínio do Senado, precisava de 50 das 248 cadeiras. Metade delas estava em disputa nesta eleição, e os parlamentares eleitos cumprirão mandatos de seis anos.
Ishiba reconheceu o resultado como “rigoroso” e afirmou que o foco imediato do governo permanece nas negociações comerciais com os Estados Unidos. A derrota, porém, reduz a capacidade de articulação da coalizão em um momento marcado por inflação, pressão sobre o custo de vida e críticas ao desempenho econômico.
Fatores que explicam a perda de apoio
Analistas atribuem o enfraquecimento do PLD a uma combinação de desgaste político e cisão no eleitorado conservador. Partidos menores, em especial o Sanseito, de viés nacionalista e anti-imigração, atraíram parte dos votos tradicionalmente ligados à legenda governista. O Sanseito ganhou visibilidade durante a pandemia de Covid-19 ao difundir teorias conspiratórias sobre vacinas em plataformas como o YouTube e, desde então, consolidou sua retórica “Japão em primeiro lugar”.
Docentes que acompanham a política japonesa observam que setores conservadores consideram Ishiba menos alinhado a pautas revisionistas e a posições duras contra a China, características associadas ao ex-primeiro-ministro Shinzo Abe. Abe comandou o país de 2006 a 2007 e de 2012 a 2020, tornando-se o premiê que mais tempo permaneceu no cargo na história japonesa.
Além da disputa ideológica, o eleitorado expressou descontentamento com a escalada dos preços, especialmente do arroz, e com sucessivos escândalos que abalaram o PLD nos últimos anos. O conjunto desses fatores elevou o índice de rejeição ao governo e abriu espaço para alternativas mais à direita.
Precedentes e possíveis desdobramentos internos
Nos últimos anos, três primeiros-ministros do PLD que perderam a maioria no Senado renunciaram em até dois meses após a votação. Embora Ishiba sustente que não deixará o posto, o histórico alimenta especulações sobre uma eventual disputa pela liderança do partido. Entre os nomes cotados estão:
- Sanae Takaichi, segunda colocada na eleição interna de 2023;
- Takayuki Kobayashi, ex-ministro de Segurança Econômica;
- Shinjiro Koizumi, filho do ex-premiê Junichiro Koizumi.
Uma mudança de comando na sigla poderia gerar instabilidade política em um período considerado crucial para as tratativas comerciais com Washington. O governo norte-americano pressiona Tóquio em temas tarifários e na abertura de mercado, enquanto o Japão busca proteger setores sensíveis da economia.
Influência do debate migratório
O fluxo recorde de turistas e o aumento no número de residentes estrangeiros tornaram a imigração um tema central da campanha. Embora o Japão mantenha políticas restritivas, a chegada de trabalhadores de fora tem sido vista por parte da população como fator de pressão sobre preços e infraestrutura. Esse sentimento foi explorado por legendas como o Sanseito, cuja plataforma inclui críticas à presença de estrangeiros e defesa de medidas mais duras de controle de fronteiras.
Na semana que antecedeu a votação, Ishiba criou uma força-tarefa destinada a investigar crimes ou “comportamentos incômodos” atribuídos a alguns estrangeiros, envolvendo desde aquisições de terras até inadimplência em seguros sociais. A iniciativa foi interpretada como tentativa de responder ao avanço das pautas nativistas e de recuperar apoio entre eleitores conservadores.
Contexto econômico e social
O Japão enfrenta ventos contrários na economia: crescimento modesto, envelhecimento populacional e pressões inflacionárias acima do padrão a que o país estava acostumado. O encarecimento de alimentos básicos intensifica a percepção de perda de poder de compra, enquanto as dificuldades para dinamizar o mercado de trabalho permanecem.
Ao mesmo tempo, a agenda de reformas do governo esbarra na perda de capital político. Sem maioria na Câmara Alta e com poder reduzido na Câmara Baixa, o Executivo depende de negociações mais extensas para aprovar projetos, o que pode atrasar medidas de estímulo econômico ou ajustes fiscais.
A curto prazo, o resultado eleitoral coloca o primeiro-ministro diante de dois desafios principais: preservar sua liderança no PLD e conduzir negociações internacionais sem a segurança de um apoio parlamentar amplo. A médio prazo, a evolução da insatisfação popular e o crescimento de partidos à direita tendem a moldar o cenário político japonês rumo às próximas disputas nacionais.

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