Combates entre drusos e beduínos persistem no sul da Síria apesar de cessar-fogo

Confrontos sectários voltaram a ser registrados na província síria de Suweida neste sábado ( ), contrariando o cessar-fogo anunciado horas antes pelo presidente interino Ahmed al-Sharaa. Segundo relatos de grupos locais, combatentes drusos expulsaram milicianos beduínos do centro urbano de Suweida, mas trocas de tiros continuaram em outras localidades da região. As informações sobre o controle territorial ainda não foram confirmadas de forma independente.

Nas últimas 24 horas, o Ministério do Interior informou que a presença de forças de segurança federais permitiu “interromper” a violência na capital da província. Mesmo assim, a agência Reuters registrou tiroteios esparsos em áreas rurais, além de relatos de saques e incêndios em estabelecimentos comerciais observados por correspondentes estrangeiros. Desde domingo, quando o sequestro de um comerciante druso na rodovia Damasco-Suweida desencadeou as hostilidades, o Observatório Sírio de Direitos Humanos (SOHR) contabiliza 940 mortos nos dois lados.

O governo de Damasco vem sendo acusado por líderes comunitários drusos de participar de ataques contra civis, apesar de ter destacado tropas para restaurar a ordem. De acordo com moradores, checkpoints foram instalados dentro e nos arredores da cidade para impedir a chegada de novos combatentes. Sharaa, que assumiu interinamente o cargo máximo do país, declarou que “todos os responsáveis por violações serão julgados, independentemente da filiação”, reiterando o compromisso de proteger minorias.

A tensão interna ganhou dimensão regional. No início da semana, Israel declarou apoio à população drusa e realizou bombardeios contra unidades do Exército sírio e instalações do Ministério da Defesa na capital. O cessar-fogo anunciado neste sábado inclui a suspensão dessas ações militares israelenses, medida que Tel Aviv condicionou à proteção efetiva dos drusos. O acordo foi mediado por Washington, segundo fontes diplomáticas.

Em publicação nas redes sociais, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, exigiu o fim “do estupro e do massacre de inocentes” no território sírio. O chanceler norte-americano pressiona Damasco a bloquear a entrada de combatentes do Estado Islâmico e punir autores de atrocidades, inclusive militares governistas. Também por meio de rede social, o ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Saar, qualificou como “muito perigosa” a condição das minorias na Síria, questionando a capacidade do governo de assegurar sua integridade.

A comunidade drusa segue uma fé esotérica originada do islã xiita e representa uma minoria tanto na Síria quanto nos países vizinhos. No passado, o grupo manteve posição ambígua em relação ao governo central; contudo, a recente escalada aumentou a desconfiança contra Damasco. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, prometeu impedir ataques contra drusos sírios, citando laços históricos com os cerca de 150 mil drusos que vivem em território israelense.

Entidades internacionais denunciam a deterioração das condições humanitárias em Suweida. O alto-comissário da ONU para direitos humanos, Volker Türk, relatou ter recebido indícios de execuções sumárias, detenções arbitrárias e abusos praticados por forças de segurança, milícias alinhadas ao governo interino e grupos armados drusos e beduínos. Ele exigiu investigações independentes e responsabilização de todos os envolvidos.

Na sexta-feira, o enviado especial dos Estados Unidos para a Síria, Tom Barrack, havia anunciado um entendimento preliminar que previa trégua entre Israel e Síria. Ele apelou para que drusos, beduínos, sunitas e demais comunidades “deponham as armas” e se unam na construção de uma identidade nacional inclusiva. Até o momento, porém, a trégua permanece frágil, com a continuidade dos combates e a ausência de observadores que confirmem a implementação completa dos termos.

Enquanto não há garantias de segurança, milhares de moradores permanecem confinados em casa ou buscam rotas de fuga para províncias vizinhas. Organizações humanitárias alertam para a escassez de alimentos, combustível e medicamentos, agravada pelo bloqueio de estradas e pela destruição de infraestruturas básicas durante os confrontos da última semana.

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