Diabetes aumenta risco de enfarte: saiba como a hiperglicemia afeta o coração

A hiperglicemia sustentada típica da diabetes acelera a aterosclerose e multiplica a probabilidade de enfarte e AVC, alertam especialistas.

Inflamação vascular reforçada pela glicose

A permanência de níveis elevados de glicose no sangue desencadeia um processo inflamatório contínuo que fragiliza as paredes dos vasos, explica o cardiologista Rafael Côrtes, do Hospital Sírio-Libanês. De acordo com o médico, a hiperglicemia facilita a formação de produtos de glicação avançada, intensifica o stress oxidativo e lesiona o endotélio — a fina camada que reveste artérias e veias.

Essas alterações criam o ambiente ideal para o desenvolvimento de placas de gordura. “A ação do açúcar assemelha-se a grãos de areia a raspar o interior de um cano novo”, compara Côrtes. Os microarranhões acumulam gordura e, com o tempo, formam obstruções que podem interromper o fluxo sanguíneo, principal causa de enfarte e acidente vascular cerebral.

Fatores de risco que se somam

Além da própria glicemia descontrolada, a diabetes costuma vir acompanhada de hipertensão, dislipidemia, excesso de peso e sedentarismo. A presença simultânea desses elementos coloca o sistema cardiovascular sob pressão adicional, reforça o especialista.

Diferenças entre diabetes tipo 1 e tipo 2

O impacto não é idêntico em todos os perfis. No tipo 2 — responsável pela maioria dos diagnósticos — a resistência à insulina, associada à obesidade e a outras alterações metabólicas, eleva de forma expressiva a incidência de complicações cardíacas. Já no tipo 1, o perigo cresce com o número de anos de exposição à glicose alta, uma vez que a doença tende a manifestar-se na infância. Estudos apontam risco residual superior mesmo quando o controlo é considerado adequado, sobretudo em quem vive com a patologia há décadas.

Sintomas cardíacos podem ser discretos

Dor no peito, falta de ar, palpitações ou inchaço nas pernas são sinais típicos de problemas no coração. Contudo, em pessoas com diabetes, estes alertas podem surgir de forma atípica — ligeiro cansaço, tontura ou dor leve que irradia para as costas. Segundo o cardiologista Sidney Borges, essa apresentação subtificada exige vigilância clínica regular, mesmo na ausência de queixas evidentes.

Controlo glicémico reduz eventos cardiovasculares

Manter a glicemia estável é uma das estratégias mais eficazes para proteger vasos e coração. O exame de hemoglobina glicada (HbA1c) mostra a média de glicose nos últimos três meses e serve de indicador fiável do controlo metabólico. Pesquisas referidas por Côrtes indicam que cada redução de 1 ponto percentual na HbA1c diminui o risco de enfarte em cerca de 15 %. Contudo, o benefício é maximizado quando o controlo da glicose é acompanhado por gestão rigorosa da pressão arterial e do perfil lipídico.

Plano de prevenção completo

Para quem vive com diabetes, reduzir o risco de complicações cardíacas requer uma abordagem multifatorial:

• Glicemia sob controlo: adesão a fármacos antidiabéticos, ajuste da alimentação e monitorização frequente.
• Pressão arterial e colesterol: alvo de tratamento agressivo sempre que necessário.
• Actividade física regular: exercícios aeróbios e de resistência ajudam a melhorar a sensibilidade à insulina e o perfil cardiovascular.
• Cessação tabágica: eliminar o tabaco corta um dos maiores potenciadores de aterosclerose.
• Acompanhamento médico: consultas periódicas com cardiologista e endocrinologista permitem adaptar terapêuticas ao longo do tempo.

Por que agir precocemente

A diabetes é, em grande parte, silenciosa. Sem intervenção, o excesso de glucose provoca danos progressivos não só no coração, mas também em rins, olhos e sistema nervoso. A adoção precoce de medidas de controlo metabólico interrompe esse ciclo e melhora a qualidade de vida. Médicos lembram que, embora não exista cura definitiva, o risco cardiovascular associado à diabetes pode ser substancialmente mitigado quando as linhas de cuidado são seguidas de forma consistente.

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