MUMBAI, Índia – A Embraer detalhou esta quinta-feira o projecto de instalação de uma linha de montagem para o cargueiro militar C-390 Millennium em território indiano. A proposta foi apresentada a empresários de ambos os países durante uma conferência do grupo Lide Empresarial, realizada em Mumbai.
Fábrica projectada para o C-390 Millennium
Segundo Márcio Monteiro, vice-presidente da Embraer Defesa, a empresa participa num concurso público promovido pelas Forças Armadas indianas para substituir a frota de aviões de transporte médio. O processo poderá envolver a compra de até 80 aeronaves, o que exige produção local. Caso o contrato avance, a fábrica dedicada ao C-390 será criada na Índia.
O C-390 Millennium transporta até 26 toneladas de carga útil, voa mais rápido e com maior autonomia do que outros aviões da mesma classe, e executa missões de transporte e lançamento de tropas, evacuação médica, busca e salvamento, combate a incêndios e operações humanitárias. A aeronave dispõe ainda de capacidade de reabastecimento em voo e actua em pistas temporárias ou não pavimentadas, incluindo terra batida e cascalho.
Monteiro afirmou que o projecto combina “produto, transferência de tecnologia e conteúdo local” e sublinhou que a intenção é transformar a Índia num centro de distribuição regional. “Estes aviões poderão servir não só o mercado indiano, mas também países vizinhos da Ásia”, referiu.
Parceria industrial com a Mahindra
Para cumprir os requisitos de nacionalização, a Embraer estabeleceu uma parceria com a Mahindra Defence Systems. A empresa indiana será responsável por integrar componentes e adaptar o processo produtivo às regras locais. Um memorando de entendimento entre as duas companhias foi assinado em 2023.
O vice-presidente da Embraer Defesa classificou o potencial contrato como “o maior da história” da fabricante brasileira. A dimensão do negócio, aliada à criação de emprego qualificado e ao fluxo de tecnologia, reforça a aposta da Índia em desenvolver a sua indústria aeroespacial e de defesa.
Subsidiária em Nova Deli e presença no mercado indiano
No final de Maio, a Embraer formalizou a abertura da Embraer Índia, com sede em Nova Deli. A nova entidade jurídica visa ampliar capacidades de engenharia, aproveitar a mão-de-obra local, adquirir materiais aeronáuticos no país e prestar assistência à frota já existente. Actualmente, operam na Índia 50 aeronaves Embraer de 11 modelos diferentes, repartidas pelos segmentos comercial, executivo e militar.
Ao desenvolver uma base industrial, a companhia pretende reduzir custos logísticos, agilizar manutenção e consolidar uma cadeia de fornecimento regional. O modelo segue a política indiana “Make in India”, que incentiva a produção doméstica de equipamentos de defesa.

Imagem: noticiasaominuto.com.br
Contexto geopolítico e desafios externos
Monteiro destacou que, num cenário internacional marcado por tensões geopolíticas, a modernização de meios de transporte militar tornou-se prioridade para vários governos. O C-390, descrito como aeronave de última geração, procura responder a essa procura crescente.
Paralelamente, a Embraer encara pressões externas relacionadas com tarifas norte-americanas sobre produtos brasileiros. Embora a empresa tenha sido incluída nas excepções de um pacote de sobretaxas, ainda enfrenta um imposto adicional de 10 % anunciado em Abril pelos Estados Unidos. O presidente executivo, Francisco Gomes Neto, declarou recentemente que trabalha para reverter esse encargo.
Apesar dos desafios, a Embraer aposta na diversificação geográfica para mitigar riscos e captar novas encomendas. A possível instalação da fábrica na Índia alinha-se com essa estratégia, oferecendo acesso a um vasto mercado interno e a países asiáticos próximos.
Próximos passos
O resultado do concurso indiano determinará a implementação efectiva da linha de montagem. Caso a proposta brasileira seja escolhida, a construção da unidade de produção arrancará em colaboração com a Mahindra, acompanhada de programas de formação técnica e transferência de conhecimento.
A confirmar-se, o projecto reforçará a presença da Embraer no segmento de transporte militar e poderá estabelecer a Índia como polo regional para o C-390 Millennium, ampliando a competitividade da aeronave em mercados asiáticos emergentes.

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