O enviado do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, entrou esta sexta-feira na Faixa de Gaza para avaliar no terreno a entrega de alimentos e medicamentos e delinear um novo esquema de apoio humanitário. Steve Witkoff, acompanhado pelo embaixador norte-americano em Israel, Mike Huckabee, permaneceu mais de cinco horas no enclave palestiniano, deslocando-se a um ponto de distribuição gerido pela Gaza Humanitarian Foundation (GHF) na cidade de Rafah, no extremo sul do território.
Contexto de fome e insegurança
Especialistas internacionais alertam que se está a concretizar o pior cenário de fome em Gaza, onde cerca de dois milhões de pessoas enfrentam escassez aguda de alimentos após 22 meses de ofensiva militar israelita contra o Hamas. A quebra generalizada de segurança dificulta o transporte de ajuda, tornando cada deslocação potencialmente letal para a população.
Desde maio, centenas de civis terão sido mortos por fogo israelita quando tentavam chegar a locais de distribuição, segundo testemunhas, responsáveis de saúde locais e o Gabinete dos Direitos Humanos da ONU. Tanto o exército israelita como a GHF afirmam ter recorrido apenas a tiros de aviso e consideram que o número de vítimas foi sobre-avaliado.
Críticas ao modelo de distribuição
Num relatório divulgado no mesmo dia, a Human Rights Watch classificou a operação da GHF como «militarizada», sublinhando que o atual sistema converte os pontos de recolha em «banhos de sangue» recorrentes. O documento descreve milhares de palestinianos concentrados durante a noite junto aos portões; ao avançarem de manhã, os seus movimentos seriam controlados por disparos das forças israelitas. No interior, a corrida por alimentos deixaria os mais vulneráveis de mãos vazias.
A organização de ajuda norte-americana rejeita as acusações e afirma ter distribuído mais de 100 milhões de refeições desde maio. Todos os quatro centros da GHF funcionam em zonas controladas pelo exército israelita e, de acordo com a agência da ONU, converteram-se em pontos de tensão extrema.
Mortes registadas durante a visita
No mesmo dia em que Witkoff percorreu Rafah, o Hospital Nasser, no sul de Gaza, recebeu 13 corpos de pessoas abatidas enquanto procuravam alimentos, incluindo nas imediações da instalação inspecionada pelos representantes norte-americanos. A GHF garante que nenhum óbito ocorreu nos seus complexos nesse período. O exército israelita confirmou apenas disparos de aviso, realizados a «centenas de metros» de distância, e abriu inquérito aos acontecimentos.
Em outros pontos do território, os confrontos repetiram-se. Perto da passagem de Zikim, principal acesso de apoio ao norte de Gaza, 23 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas, segundo o diretor do Hospital Shifa, Mohamed Abu Selmiya. Ao sul, o Crescente Vermelho Palestiniano contabilizou 11 mortos numa distribuição em Gaza City. O exército israelita declarou ter atingido «militantes armados» no norte, afastados do corredor humanitário.

Imagem: Wafaa Shurafa via globalnews.ca
Objetivos da missão norte-americana
Num comentário na rede social X, Witkoff afirmou ter entrado em Gaza para «compreender claramente a situação humanitária» e elaborar um plano que «garanta comida e assistência médica» à população. A delegação não solicitou reuniões com representantes das Nações Unidas em Gaza, indicou o porta-voz adjunto da ONU, Farhan Haq, lembrando que as agências da organização mantêm operações em todo o enclave «sempre que as condições o permitem».
De acordo com Chapin Fay, porta-voz da GHF, a visita demonstra que a prioridade de Trump «é alimentar civis, e não o Hamas». A fundação insiste que os seus contratados armados recorrem apenas a gás-pimenta ou tiros para o ar para evitar atropelamentos fatais em multidões.
Escalada de violência na Cisjordânia
Fora de Gaza, o chefe da diplomacia alemã deslocou-se à aldeia cristã de Taybeh, na Cisjordânia ocupada, condenando a expansão dos colonatos israelitas e a violência de colonos. O ministro apelou ao desarmamento do Hamas e à libertação dos reféns ainda detidos. Entretanto, residentes de uma localidade próxima sepultaram Khamis Ayad, de 45 anos, alegadamente sufocado enquanto tentava apagar fogos ateados por colonos. Testemunhas relatam que forças israelitas dispararam munição real e gás lacrimogéneo contra os habitantes após o ataque. O exército israelita confirma a investigação do caso, tendo identificado graffiti em hebraico e um veículo incendiado, mas sem detenções.
Números do conflito
O aumento de ataques de colonos, ações de militantes palestinianos e operações militares israelitas intensificou-se depois de 7 de outubro de 2023, data em que o Hamas matou cerca de 1 200 pessoas em Israel e sequestrou 251. Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, subordinado ao Hamas, mais de 60 000 palestinianos perderam a vida na ofensiva israelita subsequente. A ONU e outras organizações internacionais consideram estes dados a referência mais fiável disponível, embora não distingam entre civis e combatentes.

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