Estudo expõe excesso de açúcar em alimentos que se dizem ricos em proteína

Um levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) indica que a maioria dos produtos vendidos como “ricos em proteína” entrega quantidades inferiores às anunciadas e apresenta níveis elevados de açúcar, sódio e aditivos artificiais.

Rotulagem engana consumidores

Os investigadores analisaram 60 artigos alimentares que destacavam a presença de proteína na embalagem. Destes, 52 foram classificados como ultraprocessados segundo a classificação NOVA, sistema que agrupa os alimentos conforme o grau de processamento.

Foram identificadas 65 alegações de teor proteico nos rótulos e na publicidade. Em 11 casos, a informação podia induzir o consumidor em erro, sobretudo por omitir o valor por porção. Um exemplo citado é o de uma granola que declara “30 g de proteína” na parte frontal, mas fornece apenas 5 g por dose de 40 g — o que representa entre 5 % e 8 % do valor diário recomendado, longe dos 20 % exigidos para se considerar “alto teor”.

A prática, conhecida como “snackficação”, incentiva a troca de refeições completas por lanches que promovem nutrientes específicos sem esclarecer a qualidade ou a origem desses componentes. De acordo com o Idec, esta estratégia mascara a presença de quantidades substanciais de açúcares, corantes, conservantes e, em alguns casos, resíduos de agrotóxicos.

Do mínimo processamento ao ultraprocessamento

O estudo também verificou que produtos antes considerados minimamente processados, como pastas de amendoim integrais ou goma de tapioca pronta, sofreram reformulações para incluir proteína adicionada — sobretudo whey protein. Essa alteração fez com que passassem para a categoria de ultraprocessados, perdendo qualidade nutricional.

Segundo a classificação NOVA, os alimentos distribuem-se em quatro grupos:

  • In natura ou minimamente processados — frutas, legumes, carnes frescas;
  • Ingredientes culinários — óleos, sal, açúcar;
  • Processados — pão, queijo, compotas;
  • Ultraprocessados — refrigerantes, snacks, bolachas recheadas e, agora, várias “barras proteicas”.

É neste último grupo que se concentram os produtos identificados pelo Idec. A entidade sublinha a relação entre o consumo habitual de ultraprocessados e o aumento de doenças crónicas não transmissíveis, como obesidade, diabetes e hipertensão.

Quantidade diária de proteína já é suficiente

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura recomenda uma ingestão diária de 0,6 a 0,8 g de proteína por quilo de peso corporal. Na América do Sul, o consumo médio per capita em 2022 foi de 96,4 g, valor que ultrapassa essa faixa. Para o Idec, a adição de proteína a snacks industrializados não oferece benefício real, pois vem acompanhada dos efeitos negativos do ultraprocessamento.

A nutricionista Mariana Ribeiro, que integra o programa de Alimentação Saudável e Sustentável do instituto, reforça que fontes naturais — feijão, lentilhas, ovos, leite e carnes — representam opções mais completas, entregando proteína de qualidade sem aditivos prejudiciais.

Conselhos para a escolha no ponto de venda

O Idec recomenda a leitura atenta da tabela nutricional, verificando o teor de proteína por porção e não apenas o valor total da embalagem. É igualmente aconselhado observar a lista de ingredientes: quanto mais extensa e com nomes técnicos desconhecidos, maior a probabilidade de se tratar de um ultraprocessado.

Para se anunciar como “fonte” de proteína, o alimento deve disponibilizar pelo menos 10 % do valor diário do nutriente por dose; para reivindicar “alto teor”, o mínimo sobe para 20 %. Entre os produtos avaliados, vários não atingiam sequer a primeira referência, embora usassem mensagens de destaque como “proteína extra” ou “mais proteína”.

O instituto defende maior rigor na regulação da rotulagem, de forma a impedir alegações que possam induzir em erro e a garantir informação clara sobre açúcares, gorduras saturadas e sódio. Até lá, a recomendação é privilegiar alimentos in natura ou minimamente processados e reservar os ultraprocessados para consumo esporádico.

Principais pontos da investigação

  • 52 dos 60 produtos analisados eram ultraprocessados.
  • 65 alegações de teor proteico foram identificadas; 11 eram potencialmente enganosas.
  • Alguns artigos forneciam apenas 5 g de proteína por dose, apesar de prometerem valores muito superiores.
  • Produtos reformulados para incluir whey protein perderam estatuto de minimamente processados.
  • Proteína adicionada vem acompanhada de açúcar, sal, gordura e aditivos.

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