EUA aplica tarifas até 100 % a mais de 60 países e aumenta tensão comercial

Os Estados Unidos começaram esta quinta-feira a cobrar taxas aduaneiras mais elevadas sobre bens provenientes de mais de 60 países, incluindo a União Europeia, numa das maiores ampliações de tarifas das últimas décadas.

Escalonamento das novas taxas

Logo após a meia-noite, mercadorias estrangeiras passaram a enfrentar tarifas de pelo menos 10 %. Para a UE, o Japão e a Coreia do Sul, a taxa subiu para 15 %, enquanto Taiwan, Vietname e Bangladesh enfrentam agora 20 %. As medidas incluem ainda sobretaxas específicas: 25 % sobre bens indianos devido à compra de petróleo russo, 39 % sobre produtos suíços e um agravamento até 100 % para chips informáticos.

O Presidente norte-americano, Donald Trump, sustenta que a estratégia reduzirá o défice comercial e atrairá «centenas de milhares de milhões de dólares» de investimento da UE, Japão e Coreia do Sul. Segundo a Casa Branca, a clarificação do rumo comercial permitirá às empresas aumentar investimentos e contratações nos EUA.

Sinais de impacto económico

Relatórios divulgados desde Abril, quando começaram as primeiras tarifas, apontam para um abrandamento do mercado de trabalho, aumento de pressões inflacionistas e queda dos preços das casas em regiões chave. O economista John Silvia nota que «uma economia menos produtiva precisa de menos trabalhadores» e que a subida de preços reduz salários reais.

A tentativa de antecipar as cobranças levou importadores a acelerar encomendas, fazendo com que o défice comercial no primeiro semestre atingisse 582,7 mil milhões de dólares, mais 38 % do que em 2024. A despesa em construção recuou 2,9 % no último ano, enquanto a produção industrial alemã, dependente do mercado norte-americano, caiu 1,9 % em Junho.

Economistas como Carsten Brzeski, do ING, alertam que os efeitos adversos «vão emergir gradualmente», comparando-os a «areia fina nas engrenagens» da economia global, expressão utilizada pelo professor Brad Jensen, da Universidade de Georgetown.

Processo confuso e contestação legal

A aplicação das tarifas tem sido marcada por adiamentos e revisões de última hora. Parceiros comerciais receberam indicações contraditórias sobre a data exacta de entrada em vigor, depois de uma ordem presidencial de 31 de Julho ter adiado as taxas por sete dias.

O recurso a uma lei de 1977 para declarar emergência económica encontra-se sob revisão num tribunal federal de apelação. Se os juízes concluírem que o presidente excedeu os seus poderes, a administração poderá ter de procurar nova base jurídica. Críticos republicanos, como o ex-speaker Paul Ryan, consideram que as medidas se baseiam em «caprichos» do chefe de Estado.

Reacções internacionais

Na Índia, a Federação das Organizações de Exportadores prevê impacto em 55 % das vendas destinadas aos EUA, alertando que «absorver esta subida súbita de custos não é viável». Na Suíça, o Conselho Federal convocou uma reunião extraordinária depois de uma missão urgente a Washington não ter travado as tarifas de 39 %.

Mercados financeiros resilientes

Apesar do agravamento tarifário, o índice S&P 500 soma mais de 25 % desde o mínimo registado em Abril. Este desempenho, aliado a cortes de impostos aprovados em Julho, reforça o optimismo da Casa Branca quanto a um possível impulso económico.

Contudo, analistas como Rachel West, do think tank The Century Foundation, avisam que «os norte-americanos já estão a pagar o preço da incerteza», enquanto efeitos mais amplos poderão surgir ao longo dos próximos meses.

Com a entrada em vigor desta nova vaga de tarifas, intensifica-se a aposta de Washington num proteccionismo agressivo, colocando em causa o ritmo de crescimento global e abrindo espaço a novas disputas comerciais e judiciais.

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