Ex-Presidente sul-coreano despe farda da prisão para evitar interrogatório

Seul, 12 de julho — O antigo presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, voltou a recusar-se a comparecer perante os investigadores, desta vez retirando a farda prisional e deitando-se no chão da sua cela para impedir a sua transferência. O episódio ocorreu na sexta-feira, quando a equipa do procurador especial Min Joong-ki se deslocou ao centro de detenção nos arredores de Seul munida de um mandado judicial que autorizava a condução coerciva do detido.

Resistência sem precedentes

Segundo a assistente do procurador especial, Oh Jeong-hee, Yoon «deitou-se no solo sem o uniforme penitenciário e resistiu de forma veemente» à ordem de deslocação. A equipa optou por não recorrer à força, invocando motivos de segurança, mas formalizou o aviso de que o mandado será executado numa próxima tentativa.

Em audiência parlamentar separada, o ministro da Justiça, Jung Sung-ho, confirmou que o ex-chefe de Estado chegou a tirar os calções e a camisa de manga curta antes de voltar a vesti-los após a saída dos investigadores.

Esta é a terceira recusa de Yoon em menos de um mês. Nas ocasiões anteriores, o arguido já se tinha declarado indisponível, alegando problemas de saúde.

Processo por rebelião e outras acusações

Yoon Suk Yeol foi destituído em abril, depois de decretar lei marcial em Seul numa iniciativa que durou apenas algumas horas e foi rejeitada por unanimidade pelo parlamento. O antigo dirigente, de tendência conservadora, regressou à prisão no mês passado e enfrenta um processo por rebelião e outros crimes associados à imposição de lei marcial.

Paralelamente, decorrem inquéritos a alegações não relacionadas com o decreto de 3 de dezembro. Entre elas, investiga-se se Yoon e a esposa, Kim Keon Hee, exerceram influência indevida na seleção de candidatos do então partido no poder durante as legislativas de 2022.

Equipa especial designada pelo novo Presidente

O procurador especial Min Joong-ki foi nomeado pelo atual Presidente, Lee Jae Myung, adversário liberal de Yoon. A sua missão centra-se em determinar se houve interferência nas nomeações partidárias e outros eventuais abusos de poder. Embora o mandado permita a extração forçada de Yoon do estabelecimento prisional, Min afirmou preferir a cooperação voluntária, sublinhando que «o cumprimento da lei deve aplicar-se a todos de forma igual».

Argumentos da defesa e condições de saúde

O advogado de Yoon, Yu Jeong-hwa, acusou o gabinete do procurador especial de «ferir a dignidade» do ex-governante ao divulgar detalhes sobre o seu vestuário. A defesa sustenta que o arguido sofre de problemas cardiovasculares, disfunção do sistema nervoso autónomo e complicações oculares, incluindo risco de cegueira devido à alegada falta de tratamento nos últimos três meses. Estes motivos, alega o representante legal, impedem-no de participar em interrogatórios e de assistir ao julgamento presencialmente.

Próximos passos e escrutínio público

Após a resistência de sexta-feira, a equipa de Min Joong-ki indicou que recorrerá às prerrogativas do mandado na próxima tentativa de transporte, caso Yoon mantenha a recusa. O processo é acompanhado de perto pela opinião pública sul-coreana, que aguarda sinais claros de aplicação equitativa da justiça, independentemente da posição ocupada pelo arguido no passado.

Além das acusações criminais, continuam a ser examinados os efeitos políticos da breve imposição da lei marcial, que colocou tropas armadas nas ruas de Seul e provocou forte reação do parlamento. Yoon justificou na altura a decisão como uma tentativa de contrariar, segundo ele, a «obstrução» do então maior partido da oposição, hoje no poder.

Sem data anunciada para nova diligência, o impasse permanece. A defesa insiste numa avaliação médica independente, enquanto o Ministério da Justiça reafirma que a integridade física dos detidos é salvaguardada de acordo com as normas vigentes.

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