Por que gatos levam animais mortos aos tutores e quais cuidados adotar

Gatos domésticos com acesso à rua costumam aparecer em casa trazendo lagartixas, roedores, insetos ou pequenas aves já sem vida. A cena, frequente em diversos lares, intriga quem convive com felinos e levanta dúvidas sobre o significado do gesto e os possíveis riscos envolvidos. Especialistas afirmam que o comportamento está ligado à herança genética dos gatos e pode expor tanto o animal quanto a família a doenças transmitidas pelas presas.

Instinto herdado do Felis silvestris lybica

Estudos de genética comparativa indicam que todos os gatos atuais descendem do Felis silvestris lybica, felino selvagem que caçava para sobreviver. A veterinária Rosângela Barone Goemeri, de Avaré (SP), explica que esse passado predatório permanece registrado no DNA dos animais de companhia. Mesmo bem alimentado, o gato ainda sente impulso de perseguir, capturar e, por vezes, levar a presa ao tutor.

Motivos além da ancestralidade

Pesquisadores apontam fatores adicionais que ajudam a decifrar o hábito:

Presentear o grupo: ao enxergar o tutor como parte da família, o gato pode oferecer a presa como forma de compartilhar recursos.
Ensino instintivo: em ambientes selvagens, a mãe entrega presas aos filhotes para que aprendam a caçar; alguns animais reproduzem o mesmo padrão com humanos.
Reforço de território: levar o animal abatido para dentro de casa sinaliza que aquele espaço é seguro e pertence ao felino.
Estimulação física e mental: a caça ativa sentidos, alivia energia acumulada e mantém o felino entretido.
Busca de reconhecimento: ao exibir o “troféu”, o gato espera reação positiva que, se ocorrer, reforça o comportamento.

Riscos à saúde do pet e da família

Roedores, pássaros e répteis silvestres podem hospedar pulgas, carrapatos, vermes e microrganismos capazes de provocar enfermidades como toxoplasmose, leptospirose ou salmonelose. O contato do gato com a presa facilita a contaminação e cria a possibilidade de transmissão a humanos por arranhões, lambidas, fezes ou superfícies onde o animal circula. Além disso, parasitas internos ou externos podem instalar-se no felino e em outros pets presentes na residência.

Como agir diante da “oferta”

Ao se deparar com o presente, a recomendação é manter a calma. Gritar ou punir o gato pode gerar estresse e não elimina o comportamento. O mais indicado é distrair o animal com um petisco, retirar a presa usando luvas ou saco plástico e descartá-la no lixo orgânico bem fechado. Enterrar a carcaça não é aconselhável, pois o felino pode desenterrá-la.

Prevenção e cuidados contínuos

Algumas medidas reduzem a frequência do hábito e protegem a saúde do pet:

Dieta equilibrada: rações com teor adequado de proteína podem diminuir a motivação para caçar.
Brinquedos interativos: atividades que simulam perseguição ajudam a gastar energia e satisfazer o instinto.
Vacinas e vermifugação: manter o calendário em dia previne doenças parasitárias.
Controle de ectoparasitas: comprimidos ou soluções tópicas contra pulgas e carrapatos devem ser aplicados regularmente.
Acompanhamento veterinário: diante de vômito, diarreia, letargia ou outro sinal de mal-estar após contato com uma presa, é essencial buscar avaliação profissional.

Convivência segura

Mesmo sendo naturais, os impulsos de caça requerem monitoramento. Oferecer ambiente enriquecido, garantir proteção sanitária e intervir corretamente quando o gato traz um animal morto permitem conciliar o bem-estar do felino com a segurança da família. Dessa forma, tutores lidam de forma prática e informada com um comportamento que faz parte da história evolutiva dos gatos, mas não precisa representar ameaça ao lar.

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