Gel experimental acelera cicatrização de feridas em diabéticos e restaura vasos

Investigadores de várias instituições chinesas criaram um curativo em gel que, nos ensaios preliminares, tratou rapidamente feridas associadas à diabetes. Os testes em modelos animais mostraram que o composto fechou 90 % da área lesionada em apenas 12 dias e estimulou a formação de novos vasos sanguíneos, passo fundamental para a regeneração de tecidos.

Tecnologia combina vesículas extracelulares e hidrogel

O novo curativo resulta da união de dois componentes. O primeiro são vesículas extracelulares, minúsculos “pacotes” naturais que transportam moléculas entre células. No interior dessas vesículas, os cientistas introduziram o microRNA miR-221-3p, fragmento genético que regula a produção de proteínas. A molécula actua reduzindo a síntese da proteína trombospondina-1 (TSP-1), conhecida por limitar o crescimento de vasos sanguíneos.

O segundo componente é um hidrogel chamado GelMA. Esta matriz biocompatível fixa as vesículas no local da ferida e liberta o seu conteúdo de forma gradual. O mecanismo prolonga a acção do microRNA, mantendo o estímulo à angiogénese durante vários dias.

Resultados obtidos em modelos de diabetes

Os testes foram conduzidos em ratos com diabetes, condição que dificulta a reparação cutânea e, em casos graves, pode culminar em amputações. Quando aplicada sobre lesões na pele, a formulação experimental reduziu quase totalmente a área aberta em menos de duas semanas. Em paralelo, análises histológicas revelaram aumento expressivo da rede vascular na zona tratada.

Segundo os autores, o desempenho superior deve-se precisamente ao tratamento da causa subjacente: a falta de irrigação sanguínea. Ao incentivar a criação de novos capilares, o gel garante fornecimento de oxigénio e nutrientes, elementos críticos para o encerramento definitivo da ferida.

Próximas etapas antes da utilização clínica

A investigação foi publicada a 13 de Junho na revista científica Burns & Trauma. Embora os resultados sejam considerados promissores, a abordagem permanece em fase pré-clínica. Para avançar até ao uso humano, serão necessários estudos adicionais que confirmem segurança, eficácia e dosagem adequada.

Os cientistas indicam ainda a necessidade de avaliar a produção em escala industrial e o custo por unidade. Caso esses parâmetros se mantenham viáveis, o método poderá ser adaptado a outras feridas crónicas e, potencialmente, a aplicações em ossos ou cartilagem.

Importância para a população com diabetes

Feridas crónicas representam um desafio comum para pessoas com diabetes. A cicatrização lenta favorece infecções e, em situações extremas, conduz à amputação de membros. Soluções que resolvam o défice vascular podem reduzir hospitalizações e melhorar a qualidade de vida dos doentes.

O novo gel destaca-se por actuar na origem do problema, em vez de apenas cobrir a ferida. Ao modular processos celulares internos, oferece uma estratégia direccionada que, se replicada em humanos, pode alterar práticas clínicas no tratamento de úlceras diabéticas.

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