Governadores aliados de Bolsonaro mantêm silêncio sobre veto dos EUA a Alexandre de Moraes

Passadas 24 horas desde que o governo de Donald Trump proibiu a entrada do ministro Alexandre de Moraes e de outros sete integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF) em território norte-americano, os principais governadores aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ainda não se pronunciaram sobre a medida. O veto, anunciado na sexta-feira (18) pelo secretário de Estado Marco Rubio, inclui a revogação de vistos dos magistrados e de familiares diretos.

A reportagem consultou as equipes de comunicação de Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Romeu Zema (Novo-MG), Ratinho Júnior (PSD-PR), Cláudio Castro (PL-RJ), Jorginho Mello (PL-SC) e Wilson Lima (União Brasil-AM). Nenhum dos gabinetes apresentou posicionamento ou previsão de manifestação até a tarde deste sábado (19). Apesar do recolhimento diante da decisão norte-americana, cinco desses gestores — todos, exceto Ratinho Júnior — criticaram nas redes sociais, um dia antes, a operação da Polícia Federal que impôs ao ex-chefe do Executivo federal o uso de tornozeleira eletrônica, a suspensão de perfis em redes sociais e outras restrições.

A ação da PF que atingiu Bolsonaro foi autorizada justamente pelo STF, o que fez crescer a tensão entre apoiadores do ex-presidente e os ministros da Corte. Horas após a operação, o governo Trump divulgou a sanção a Moraes, medida que, segundo integrantes de Washington, resultou, em parte, de articulação conduzida pelo deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) durante visitas recentes à capital norte-americana.

Com Bolsonaro inelegível até 2030 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral, governadores politicamente alinhados ao ex-mandatário buscam preservar o eleitorado bolsonarista para o pleito municipal de 2026. A aproximação, porém, não se traduziu em reação pública ao veto imposto pelos Estados Unidos ao decano do Supremo.

Em situação semelhante, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), afirmou que comentará a “crise política” entre os dois países apenas depois de retornar de viagem oficial ao Japão, na próxima terça-feira (22). Em vídeo divulgado nas redes sociais, Caiado pontuou que segue a orientação do ex-governador Carlos Lacerda de não opinar sobre assuntos internos quando se está fora do país. Ele também criticou o impacto de recentes tarifas norte-americanas sobre trabalhadores brasileiros e cobrou ações do governo federal.

Pela manhã, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se manifestou contra a decisão de Washington. Em publicação na rede X (antigo Twitter), o chefe do Executivo classificou a sanção como “arbitrária e sem fundamento” e expressou solidariedade a Moraes e aos demais ministros afetados. Lula acrescentou que nenhum tipo de ameaça externa comprometerá o funcionamento das instituições nacionais ou a defesa do Estado Democrático de Direito.

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Imagem: redir.folha.com.br

O episódio se soma ao crescente atrito entre Bolsonaro e o STF. Além da operação de sexta-feira, o ex-presidente já é investigado em processos que envolvem suspeitas de tentativa de golpe de Estado, uso indevido de dados sigilosos e participação em desinformação eleitoral. Bolsonaro afirma ser alvo de perseguição política.

Nos Estados Unidos, o endurecimento foi oficializado por meio de ordem executiva da Casa Branca. A proibição alcança não apenas Moraes, mas também outros sete ministros atuais da Corte: Luís Roberto Barroso, Edson Fachin, Cármen Lúcia, Dias Toffoli, André Mendonça, Kassio Nunes Marques e Rosa Weber. Todos ficam impedidos de solicitar qualquer tipo de visto para entrada no país, enquanto familiares diretos terão vistos previamente emitidos anulados.

Até o momento, não houve resposta pública dos ministros do STF além de declarações oficiais divulgadas pelo tribunal, que reforçam a legalidade das decisões e o compromisso com a Constituição. Também não há indicação, no âmbito diplomático, de eventual retaliação brasileira ou de convocação do embaixador norte-americano para explicações.

O silêncio dos governadores próximos a Bolsonaro mantém indefinida a forma como parte da oposição estadual lidará com a escalada de tensão entre os dois países e com o embate institucional envolvendo Supremo, Planalto e o ex-presidente. Enquanto isso, a sanção permanece em vigor, e a discussão sobre seus efeitos politico-jurídicos prossegue sem previsão de desfecho.

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