O Terminal, filme estreado em 2004 com Tom Hanks sob direção de Steven Spielberg, baseia-se num acontecimento verídico que ultrapassa em duração e gravidade a narrativa apresentada no ecrã. A personagem fictícia Viktor Navorski, obrigada a residir temporariamente no Aeroporto John F. Kennedy, foi inspirada na experiência de Mehran Karimi Nasseri, cidadão iraniano que passou perto de duas décadas no Aeroporto Charles de Gaulle, em Paris.
Quem foi Mehran Karimi Nasseri?
Nascido no Irão, Nasseri mudou-se para o Reino Unido nos anos 1970 para frequentar o ensino superior. Em 1977 participou em manifestações estudantis contra o regime iraniano, circunstância que, segundo relatos, levou à sua detenção e tortura. Perante o clima político, solicitou protecção internacional e viria a obter o estatuto de refugiado concedido pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.
Em 1988, quando viajava entre a Inglaterra e França, Nasseri perdeu a pasta onde transportava documentos que comprovavam a identidade e o estatuto de refugiado. Sem passaporte válido, viu-se impedido de embarcar e, simultaneamente, de entrar legalmente em território francês. Na condição de apátrida, instalou-se na zona de trânsito do terminal 1 do Charles de Gaulle, onde permaneceu durante 18 anos.
O passageiro involuntário, que adoptou o nome “Sir Alfred”, criou rotinas diárias, tornou-se figura familiar para funcionários do aeroporto e chamou a atenção da imprensa internacional. A história foi registada em 2004 no livro autobiográfico The Terminal Man, escrito em colaboração com Andrew Donkin.
Factos contestados e divergências face ao filme
Embora a longa-metragem de Spielberg apresente um tom ligeiro e concentre a ação num período de meses, o percurso real de Nasseri inclui episódios que o guião omite ou altera. Registos publicados pelo The Guardian indicam que, ao contrário do que se chegou a afirmar, as autoridades iranianas não confiscaram o seu passaporte nem o expulsaram formalmente do país. Existem ainda indícios de que os documentos poderão ter sido enviados por correio durante o trajecto para o Reino Unido, por motivos nunca esclarecidos.

Imagem: tecmundo.com.br
Outro ponto ausente do filme envolve o apoio jurídico que Nasseri recebeu. Um advogado especializado em direitos humanos tentou regularizar a situação e, durante algum tempo, o refugiado morou num abrigo em Paris. Mesmo assim, regressou ao aeroporto, onde continuou até 2022. Nesse ano, optou por ficar novamente na área de partidas, local onde sofreu um ataque cardíaco fatal alguns meses depois.
Diferenças de tom e duração
No cinema, Viktor Navorski enfrenta um impasse diplomático causado por um golpe militar fictício. A trama mistura humor com momentos emocionais e decorre num intervalo curto, permitindo uma resolução positiva. Na realidade, Nasseri enfrentou um processo longo, marcado por incertezas legais e pela ausência de um Estado que reconhecesse a sua nacionalidade. A permanência de quase duas décadas no Charles de Gaulle transformou-o num símbolo das falhas dos sistemas de controlo de fronteiras e de asilo.
Disponibilidade do filme
Apesar das diferenças entre ficção e realidade, O Terminal continua a atrair novos espectadores. O título integra actualmente o catálogo da Netflix em Portugal. Para quem não dispõe de subscrição, a produção pode também ser vista gratuitamente mediante registo na plataforma Mercado Play.

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