O anúncio do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, em 2 de abril, de que pretende aplicar tarifas sobre produtos brasileiros acendeu o sinal de alerta em Brasília. Embora ainda exista a possibilidade de recuo, como já ocorreu em episódios anteriores, o Planalto trabalha com a hipótese de que as medidas sejam efetivamente implementadas e prepara uma estratégia para mitigar os efeitos econômicos e diplomáticos.
Segundo estimativas citadas em análise do economista Joel Pinheiro da Fonseca, o bloqueio das exportações nacionais para o mercado norte-americano poderia reduzir em até 2% o Produto Interno Bruto brasileiro no pior cenário. As vendas afetadas incluem basicamente commodities agrícolas e insumos industriais que têm nos Estados Unidos um comprador relevante. Caso as barreiras comerciais entrem em vigor, a oferta desses itens no mercado interno tende a crescer no curto prazo, provocando queda temporária de preços até que a produção seja redirecionada.
O governo avalia que a margem de manobra diante de Washington é limitada. A gestão Luiz Inácio Lula da Silva reconhece que a relação bilateral com Trump não foi priorizada desde a eleição do republicano em 2024, e que hoje existe pouco espaço para diálogo direto. Fontes do Itamaraty indicam que cartas enviadas com propostas de solução não receberam resposta formal, enquanto o próprio Trump teria mantido contato com o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Diante do quadro, a estratégia oficial concentra-se em três frentes. A primeira é tentar negociar tecnicamente a partir dos argumentos incluídos no pedido de investigação aberto pelos Estados Unidos, buscando demonstrar que eventuais práticas questionadas não configuram subsídio ou dumping. A intenção é obter, ao menos, adiamentos ou exceções para setores mais vulneráveis, reduzindo perdas imediatas.
A segunda linha de ação mira a sociedade norte-americana. O Palácio do Planalto pretende acionar empresas importadoras, veículos de imprensa e grupos de pressão ligados a consumidores para evidenciar o impacto das tarifas nos preços finais dentro dos próprios Estados Unidos. A avaliação é que pressões econômicas internas já levaram Trump a rever decisões em outros momentos e podem novamente influenciar o republicano.
O terceiro eixo envolve articulação internacional. Diplomatas brasileiros iniciaram contato com governos considerados democráticos para buscar manifestações públicas contrárias ao que classificam como chantagem comercial. A leitura é que, ao aceitar passivamente a medida, esses países se tornariam alvos potenciais de iniciativas semelhantes no futuro.
Paralelamente, o Itamaraty reabre discussões sobre acordos comerciais. Na década de 1990 e início dos anos 2000, o Brasil avançou pouco na celebração de tratados bilaterais e regionais, mantendo-se dependente de mercados tradicionais. O episódio atual é visto como oportunidade de diversificar destinos para produtos agrícolas e manufaturados, reduzindo o peso dos Estados Unidos na pauta exportadora.
Especialistas ressaltam que novos fluxos comerciais, uma vez estabelecidos, tendem a se consolidar de forma duradoura. Isso exigirá, porém, agilidade em negociações e melhoria de infraestrutura logística doméstica para que o Brasil amplie competitividade e responda à possível perda de espaço no território norte-americano.
Outro ponto em discussão é o futuro da Organização Mundial do Comércio. Desde 2019, o órgão de apelação da OMC está paralisado, após os Estados Unidos bloquearem a nomeação de juízes, iniciativa iniciada no governo Trump e mantida por Joe Biden. Sem esse mecanismo, países afetados por medidas unilaterais ficam sem instância efetiva de recurso. A diplomacia brasileira considera essencial retomar o funcionamento do sistema ou, caso não haja cooperação de Washington, discutir uma alternativa multilateral que assegure previsibilidade e regras uniformes ao comércio internacional.
Analistas ouvidos em Brasília observam que retaliações diretas são pouco prováveis, pois o dano potencial que os Estados Unidos podem impor à economia brasileira supera em larga escala qualquer resposta. A posição, portanto, é evitar escalada e concentrar esforços em negociação, pressão indireta e diversificação de mercados.
Enquanto aguarda a definição de Washington, o governo mantém interlocução com entidades do setor privado para mapear impactos, desenhar medidas de apoio e identificar oportunidades de redirecionamento de exportações. A equipe econômica reforça que, mesmo no cenário mais negativo, o efeito estimado de 2% do PIB não configura colapso, mas exige planejamento para evitar retração prolongada da produção e do emprego.
Com o calendário eleitoral norte-americano avançando, a indefinição sobre a imposição ou não das tarifas deve persistir nas próximas semanas. Até lá, Brasília trabalha em regime de contenção de danos e na construção de pontes comerciais que possam amortecer eventual choque externo.
Fonte: Folha de S.Paulo

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