Uma investigação publicada a 27 de julho revelou a utilização de aparelhos de áudio alimentados a energia solar por missionários cristãos em territórios de povos indígenas isolados no Vale do Javari, região que faz fronteira entre o Brasil e o Peru.
Equipamento baptista chega a área protegida
Os investigadores localizaram um dispositivo, identificado como “Messenger”, entre membros do povo Korubo. O aparelho, com as cores amarela e cinzenta e dimensões semelhantes às de um telemóvel, reproduz passagens bíblicas em português e espanhol, bem como palestras de um pastor norte-americano. O modelo integra lanterna e painel solar, permitindo funcionamento contínuo em zonas sem electricidade ou ligação à Internet.
Segundo Seth Grey, porta-voz da organização baptista norte-americana In Touch Ministries, cada unidade suporta escuta colectiva de até 20 pessoas. A entidade reconhece ter distribuído 48 aparelhos ao povo Wai Wai, mas afirma não operar em locais onde a lei proíbe actividades missionárias. A presença do Messenger no Vale do Javari terá resultado, de acordo com Grey, da actuação de outros grupos que transportam o equipamento para áreas vedadas.
Relatos recolhidos pela investigação indicam a existência de pelo menos sete dispositivos no território Korubo; apenas um foi recuperado, encontrando-se actualmente com a matriarca Mayá.
Drones não identificados intensificam preocupações
A mesma investigação regista voos frequentes de drones sobre a região, sobretudo ao final da tarde. Agentes da base de protecção instalada à entrada da terra indígena tentaram inutilizar os aparelhos, sem sucesso. As origens ainda não foram determinadas; suspeita-se de envolvimento de missionários, garimpeiros, pescadores ou traficantes.

Imagem: missionários para evangelizar indígena via tecmundo.com.br
Quadro legal e riscos para povos isolados
O proselitismo religioso está proibido no território Korubo desde 1987 por determinação da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI). O Ministério Público Federal acompanha o caso para assegurar o cumprimento das normas e proteger comunidades vulneráveis a doenças externas, dado o limitado contacto destes grupos com o mundo exterior.
A introdução de equipamentos electrónicos e a presença de visitantes não autorizados elevam o risco de contágio e pressão cultural sobre populações que dependem de políticas de isolamento para preservar a saúde e a identidade.

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