Israel avalia ampliar ofensiva em Gaza sob críticas internas e alertas humanitários

O gabinete de segurança de Israel reúne-se esta quinta-feira para decidir se avança com um plano militar destinado a ocupar as zonas de Gaza ainda fora do controlo israelita. A eventual aprovação prevê uma implementação faseada, com o objetivo de intensificar a pressão sobre o Hamas após o impasse nas negociações de cessar-fogo.

Debate político e divergências militares

Fontes governamentais estimam um debate prolongado, marcado por divergências entre o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e o chefe do Estado-Maior, tenente-general Eyal Zamir. O responsável militar alertou para o risco acrescido para os cerca de 50 reféns ainda detidos em Gaza e para o desgaste de um exército envolvido há quase dois anos num conflito de elevada intensidade.

Famílias de reféns rejeitam a expansão das operações, alegando que a medida ameaça a segurança dos cativos. Um grupo de quase duas dezenas de familiares navegou esta manhã até à fronteira marítima com Gaza, transmitindo mensagens de apelo aos seus entes queridos e pedindo intervenção internacional. Ao anoitecer, estavam previstas manifestações em várias cidades israelitas contra a possível decisão do gabinete.

Vítimas civis e situação humanitária

No mesmo dia, pelo menos 29 palestinianos morreram em ataques aéreos e tiroteios no sul do enclave, segundo hospitais locais. Doze dessas vítimas encontravam-se perto de um ponto de distribuição de ajuda gerido por um contratado privado apoiado pelos Estados Unidos e Israel. A unidade hospitalar de Nasser, em Khan Younis, relatou mais de 50 feridos, muitos com ferimentos de bala.

A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) denunciou que os locais de entrega de alimentos da Gaza Humanitarian Foundation (GHF) se tornaram “pontos de morte” em vez de socorro. De acordo com a MSF, mais de 850 pessoas perderam a vida junto a esses centros nos últimos dois meses, e quase 1 400 foram tratadas por ferimentos, incluindo 41 crianças baleadas. A GHF nega que os seus contratados disparem sobre civis.

Pressão internacional crescente

A Human Rights Watch divulgou um relatório que pede a suspensão de transferências de armas para Israel, após investigações a ataques contra duas escolas em 2024 que mataram 49 pessoas. A organização afirma não ter encontrado indícios de alvos militares nesses locais.

A eventual ofensiva amplia o receio de condenação internacional num momento em que as Nações Unidas alertam para a proximidade de fome generalizada em Gaza. A ofensiva israelita já provocou mais de 61 000 mortos, segundo o Ministério da Saúde do território, controlado pelo Hamas. Israel contesta os números mas não apresentou uma contagem alternativa.

Devolução de corpo e protesto beduíno

Entretanto, as autoridades israelitas devolveram o corpo de Awdah Al Hathaleen, ativista palestiniano alegadamente morto por um colono na Cisjordânia. A restituição ocorreu após familiares beduínos iniciarem uma greve de fome para contestar a retenção do cadáver. Israel impôs restrições à participação de pessoas de fora da aldeia nas cerimónias fúnebres.

Contexto do conflito

O confronto intensificou-se em 7 de outubro de 2023, quando militantes liderados pelo Hamas mataram cerca de 1 200 pessoas em território israelita e raptaram 251. A maioria dos sequestrados foi libertada em trocas ou pausas humanitárias; cerca de 20 dos que permanecem cativos são considerados vivos. Israel respondeu com uma ofensiva militar de larga escala que continua a gerar elevados custos humanos e destruição de infra-estruturas.

Com o conselho de ministros a ponderar um avanço sobre áreas ainda controladas pelo Hamas, o equilíbrio entre objetivos militares, pressões internas e apelos humanitários volta a estar no centro da decisão política israelita.

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