A Justiça brasileira bloqueou uma mansão avaliada em parte do património de Ricardo Delneri, fundador da 2W Ecobank, empresa de energia eólica que se encontra em recuperação judicial após acumular dívidas de cerca de R$ 2,2 mil milhões. O arresto da propriedade, situada no condomínio de luxo Fazenda Boa Vista, em Porto Feliz (interior de São Paulo), é o primeiro resultado de uma acção movida por investidores que procuram garantir o ressarcimento de prejuízos provocados pelo colapso da companhia.
Património de luxo na mira dos credores
O imóvel retido tem mil metros quadrados de área construída e faz parte de um conjunto de bens estimado em R$ 75 milhões. Além da mansão, os credores tentam travar a transferência de dois apartamentos: um na zona financeira da avenida Faria Lima, adquirido por R$ 1 milhão e actualmente em nome do filho de Delneri, e outro de 750 metros quadrados no condomínio Cidade Jardim, na zona sul da capital paulista, com cinco lugares de garagem.
Segundo os autos, o empresário passou as titularidades de diversos bens à esposa e ao filho num período em que a 2W Ecobank já enfrentava dificuldades financeiras. Os investidores alegam que essas operações configuram tentativa de ocultação de activos para fugir a eventuais penhoras.
Fundo de R$ 700 milhões desencadeia conflito
A disputa teve origem num fundo de investimento de R$ 700 milhões estruturado em 2021 pelo então Credit Suisse — hoje integrado no UBS — e lastreado em debêntures da 2W Ecobank. Com o agravamento da situação financeira da empresa, os detentores dos títulos aprovaram em assembleia a antecipação do vencimento e exigem pagamento imediato. O grupo aponta falhas na divulgação de riscos por parte do banco e afirma ter sofrido perdas multimilionárias.
Documentos entregues ao processo indicam que o Credit Suisse recebeu R$ 20 milhões em bónus por organizar a emissão e comercializar os papéis junto aos seus clientes. Entre as garantias oferecidas constava a participação dos próprios sócios na companhia, que agora se revelou insuficiente para cobrir o défice.
Pendente investigação por alegadas irregularidades
O histórico de Delneri inclui ainda referência a uma operação da Polícia Federal que, em 2014, investigou suspeitas de fraude em contratos ligados à Renova Energia, empresa na qual era sócio. O caso permanece em segredo de Justiça, não havendo registo de citação formal ao empresário até ao momento.

Imagem: metropoles.com
Posição da defesa
Os advogados de Ricardo Delneri sustentam que não existe manobra de blindagem patrimonial. Afirmam que, à data das transferências, o empresário detinha mais de 65 % das acções da 2W Ecobank, avaliadas em cerca de R$ 1,5 mil milhões, valor considerado suficiente para garantir as obrigações. A defesa argumenta que o vencimento das debêntures apenas ocorreria em Novembro de 2025 e Novembro de 2029 e que a antecipação foi deliberada numa assembleia “maculada por vícios de convocação e de voto”, contrariando, dizem, uma decisão judicial prévia que proibia tal medida.
Relativamente ao bloqueio já decretado, os representantes de Delneri classificam a execução como nula por se basear em “título inexigível” e mantêm que as aplicações feitas com o capital levantado serviram integralmente para a construção de parques eólicos, actualmente operacionais.
Próximos passos na Justiça
O processo segue em diferentes frentes: de um lado, investidores tentam expandir o bloqueio a todo o património identificado; do outro, o empresário procura anular a antecipação de vencimento dos títulos e recuperar os bens que passaram para nome de familiares. A 2W Ecobank, enquanto isso, prossegue sob tutela de um administrador judicial, a quem cabe apresentar plano de recuperação que convença credores diversos, incluindo bancos, fornecedores e detentores de debêntures.
O UBS, actual controlador do Credit Suisse, informou que não se pronuncia sobre litígios em curso.

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