Kremlin desdramatiza ameaça nuclear de Trump enquanto emissário dos EUA segue para Moscovo

Retórica nuclear recebe resposta cautelosa

O Kremlin adoptou um tom conciliador após as declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que na sexta-feira anunciou o envio de submarinos nucleares como reacção a provocações do ex-presidente russo Dmitri Medvedev. A Casa Branca impôs um prazo que termina na próxima sexta-feira para que Vladimir Putin aceite uma trégua na guerra iniciada em 2022. Caso contrário, Washington avançará com sanções económicas adicionais.

Na segunda-feira, o porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov, afirmou ser necessário “muita, muita cautela” quando se fala em armas atómicas. Sem mencionar directamente Trump ou Medvedev, Peskov realçou que os submarinos americanos “já se encontram em missão” e recusou prolongar a controvérsia. Até agora, Medvedev — actual vice-presidente do Conselho de Segurança e visto como porta-voz da ala mais dura do poder russo — não respondeu às palavras de Trump.

Agenda diplomática e pressões económicas

Apesar da escalada verbal, Moscovo prepara-se para receber, na quarta-feira, Steve Witkoff, enviado norte-americano encarregado de negociar o fim do conflito. A deslocação ocorre numa altura em que o Kremlin considera “impossível” aceitar imposições externas, mas reconhece a necessidade de diálogo depois de três rondas de conversações infrutíferas com Kiev mediadas por Washington.

As sanções anunciadas por Trump visam países que compram petróleo e derivados russos. A expectativa no Kremlin é que as medidas demorem a produzir efeitos significativos. A Índia, segundo maior destino do crude russo, já declarou que continuará a importar. A China, principal compradora, e o Brasil, segundo maior importador de gasóleo russo, também são peças-chave na estratégia de Moscovo para amortecer o impacto. A Turquia, membro da NATO e principal destino de diesel, é igualmente afectada.

Guerra no terreno mantém intensidade

No fim-de-semana, ataques aéreos intensos marcaram ambos os lados do conflito. Drones ucranianos atingiram um depósito de combustível em Sochi, estância balnear preferida de Putin, causando a morte de três pessoas em território russo. Durante a madrugada seguinte, as defesas russas afirmaram ter interceptado 61 drones.

A investida mais significativa visou a Crimeia, região anexada pela Rússia em 2014. Segundo o Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU), 113 drones atacaram a base de Saki, uma das mais importantes na península. Kiev afirma ter destruído um caça Su-30SM, danificado outro e provocado estragos em três bombardeiros Su-24. Moscovo confirmou apenas a operação, sem detalhar prejuízos.

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Contagem decrescente para nova decisão

O prazo definido por Trump termina dentro de dias, aumentando a pressão sobre o governo russo. Analistas próximos do Kremlin acreditam que Putin dificilmente aceitará uma trégua num contexto em que Moscovo vê a postura norte-americana como ultimatos. A aposta russa passa por resistir às sanções e manter a exportação de energia para parceiros que não aderem às restrições de Washington.

Enquanto isso, a deslocação de Witkoff a Moscovo poderá apontar caminhos para um cessar-fogo, mas carece de sinais concretos de cedência. A presença de submarinos nucleares americanos, cujo tipo não foi especificado por Trump, não alterou até ao momento a posição pública do Kremlin.

Falta de reacção formal de Medvedev

Medvedev, que governou a Rússia entre 2018 e 2022, tinha lembrado Washington da capacidade nuclear herdada da Guerra Fria ao criticar os sucessivos prazos de Trump. O ex-chefe de Estado mantém-se silencioso desde sexta-feira, deixando ao Kremlin a gestão da crise retórica. A presença de Medvedev no Conselho de Segurança garante que a sua voz continua a influenciar o discurso oficial, embora o presidente russo não tenha comentado publicamente os prazos impostos por Washington.

Com as conversações marcadas para quarta-feira e o relógio diplomático a avançar até sexta, Moscovo aposta numa resposta moderada à retórica nuclear enquanto prossegue as operações militares e reforça a cooperação energética com parceiros fora da órbita norte-americana.

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