O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou neste domingo (21) que a Rússia continua disposta a retomar negociações com a Ucrânia, mas ressaltou que a prioridade de Moscou é atingir as metas previamente estabelecidas na campanha militar. A declaração foi feita poucos dias depois de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, impor um prazo de 50 dias para que o Kremlin concorde com um cessar-fogo, sob pena de enfrentar sanções comerciais mais severas.
Peskov negou repetidas acusações de Kiev e de governos ocidentais de que Moscou estaria protelando uma solução diplomática. Segundo ele, o presidente Vladimir Putin deseja um “desfecho pacífico o quanto antes”, porém considera o processo “complexo” e dependente do avanço nos objetivos russos. “O principal para nós é cumprir nossas metas. Elas estão claramente definidas”, declarou o porta-voz em entrevista à televisão estatal.
Desde o início da invasão em fevereiro de 2022, o Kremlin condiciona qualquer acordo de paz à retirada ucraniana das regiões de Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizhzhia, anexadas unilateralmente pela Rússia em setembro do mesmo ano, ainda que não ocupadas integralmente. Moscou exige ainda que a Ucrânia abandone seu objetivo de ingresso na Otan e aceite limitações permanentes sobre suas Forças Armadas. Kiev e seus aliados rejeitam essas condições.
Em pronunciamento na noite de sábado (20), o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, informou ter proposto uma nova rodada de conversas nesta semana. Agências russas, contudo, relataram que ainda não há data definida, embora Istambul permaneça como a cidade mais provável para sediar o encontro.
Pressão dos Estados Unidos
Em 14 de julho, Donald Trump endureceu o discurso em relação a Moscou após meses de tentativas fracassadas de mediação. O líder norte-americano anunciou tarifas “altíssimas” caso não haja um entendimento em 50 dias e prometeu criar um fluxo ampliado de armamentos dos Estados Unidos para a Ucrânia. Ele não detalhou a forma de aplicação das tarifas, mas indicou que atingirão parceiros comerciais da Rússia, com objetivo de ampliar o isolamento de Moscou na economia global.
Trump também declarou que aliados europeus adquirirão “bilhões e bilhões de dólares” em equipamentos militares norte-americanos, que seriam posteriormente transferidos a Kiev. Entre os sistemas mencionados está a bateria antiaérea Patriot, considerada prioridade pela Ucrânia na defesa contra drones e mísseis russos. A determinação buscou afastar dúvidas sobre o compromisso de Washington, levantadas depois que o Pentágono suspendeu temporariamente o envio de armas por temer redução nos próprios estoques.
Intensificação dos ataques aéreos
Enquanto as tratativas diplomáticas seguem indefinidas, a Rússia ampliou os bombardeios de longo alcance contra cidades ucranianas. De acordo com analistas militares citados por agências internacionais, o número de drones lançados em uma única noite já supera o volume disparado em determinados meses de 2024, tendência que pode se acentuar nas próximas semanas.
No ataque mais recente, a Força Aérea da Ucrânia informou ter derrubado 18 dos 57 drones do tipo Shahed e modelos-isca disparados entre a noite de sábado e a madrugada de domingo. Outros sete aparelhos desapareceram dos radares e não tiveram o destino confirmado.
A ofensiva causou novos feridos em áreas civis. Duas mulheres ficaram lesionadas em Zaporizhzhia, região do sul parcialmente ocupada pela Rússia, depois que um drone atingiu a residência onde estavam, segundo a administração militar local. Em Izium, no nordeste do país, outros dois civis foram socorridos após a colisão de um aparelho contra um edifício residencial, informaram autoridades ucranianas.
Negociação ainda incerta
Os diálogos diretos entre russos e ucranianos em Istambul, realizados esporadicamente desde março de 2022, tiveram como principal resultado algumas trocas de prisioneiros, sem avanços substanciais sobre questões territoriais ou de segurança. A nova rodada proposta por Kiev chega em meio à pressão de Washington e à escalada dos ataques, aumentando a incerteza sobre uma eventual convergência de interesses.
Até o momento, Moscou mantém a condição de que qualquer cessar-fogo dependa da aceitação, por parte de Kiev, das reivindicações territoriais e militares russas. Por sua vez, a Ucrânia exige a retirada completa das tropas invasoras e a preservação de suas fronteiras internacionalmente reconhecidas como ponto de partida nas negociações. Com posições tão distantes, analistas avaliam que a viabilidade de um acordo nos próximos 50 dias dependerá de concessões que nenhuma das partes, por ora, se mostra disposta a fazer.

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