Lula admite limite na disputa com EUA sobre sobretaxa de 50%

BRASÍLIA — O presidente brasileiro, Lula da Silva, reconheceu existir um “limite” para o confronto diplomático com os Estados Unidos em torno da sobretaxa de 50% aplicada pelo governo norte-americano às exportações do Brasil. A declaração foi feita este domingo, em Brasília, durante a cerimónia que empossou Edinho Silva como novo presidente do Partido dos Trabalhadores (PT).

Tensão comercial entre Brasília e Washington

No discurso, Lula referiu que o Executivo precisa “fazer o que tem de fazer”, mas ponderando as consequências para a relação bilateral. “Não quero confusão; quem quiser confusão connosco saiba que não temos medo, mas há coisas que só podemos dizer até certo ponto”, afirmou.

O presidente classificou a decisão de Washington como “inaceitável”, sustentando que a tarifa supera o limite de 35% permitido pela Organização Mundial do Comércio (OMC) e compromete o princípio do multilateralismo. Lula sublinhou ainda que se mantém “tranquilo” quanto à situação económica interna, embora admita impacto diplomático logo que a medida entre plenamente em vigor.

Críticas a Eduardo Bolsonaro e contexto político

Lula aproveitou a ocasião para comentar a actuação do deputado federal Eduardo Bolsonaro, actualmente nos Estados Unidos em licença do mandato. Segundo o presidente, o filho do ex-chefe de Estado Jair Bolsonaro tem procurado apoio para uma eventual anistia ao pai — alvo de processos na justiça brasileira — e para revogar a nova tarifação. “Há quem se embrulhasse na nossa bandeira e agora se enrole na bandeira americana para defender taxação sobre o próprio país”, ironizou Lula.

O evento partidário decorreu no último dia do Encontro Nacional do PT, enquanto, em várias cidades brasileiras, manifestantes bolsonaristas saíam às ruas em apoio ao ex-presidente e contra o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes. O magistrado, recorde-se, foi recentemente alvo de sanções económicas impostas pelos Estados Unidos ao abrigo da Lei Magnitsky, com base em alegadas restrições à liberdade de expressão.

Limites impostos pela OMC

Lula reiterou que o Brasil está disposto a retaliar dentro dos parâmetros legais, podendo elevar tarifas “ao máximo que a OMC permite”. No entanto, considerou que a sobretaxa norte-americana rompe esse enquadramento, pois “extrapola os limites” fixados pela organização internacional.

Clima interno e internacional

Apesar da tensão, o presidente brasileiro frisou que o país não se considera “uma republiqueta” e que continuará a defender interesses sem recorrer a escaladas retóricas. “Temos de falar aquilo que é necessário”, salientou, insistindo na importância de preservar canais de diálogo com Washington enquanto procura soluções no âmbito multilateral.

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Imagem: noticiasaominuto.com.br

Antes dos discursos formais, a plateia acompanhou um remix áudio viral em que Lula imita Eduardo Bolsonaro a pedir “defende o meu pai”. A gravação, retirada de uma entrevista televisiva, tem circulado nas redes sociais e serviu como mote para críticas internas ao alinhamento do deputado com o governo norte-americano.

Próximos passos

O Palácio do Planalto não antecipou medidas concretas para responder à taxação de 50%, mas interlocutores do governo admitem que o assunto será levado aos fóruns da OMC. Enquanto isso, Brasília procura sinalizar firmeza sem comprometer agendas paralelas com os Estados Unidos, incluindo cooperação ambiental, investimentos e segurança energética.

Nos bastidores diplomáticos, auxiliares do Itamaraty avaliam que a disputa tarifária pode prolongar-se, sobretudo se o Congresso norte-americano apoiar a decisão presidencial. Para já, Lula mantém o discurso de que “não quer brigar” mas não aceitará imposições consideradas políticas.

Ao encerrar a intervenção, o chefe de Estado reforçou que “o Brasil não tem medo” de confrontos comerciais, desde que pautados por regras internacionais. O governo brasileiro deverá, nas próximas semanas, intensificar contactos com parceiros do Mercosul e outros aliados em busca de apoio para contestar a medida imposta por Washington.

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