México descarta acordo comercial separado e reforça cooperação com o Canadá

A presidente do México, Claudia Sheinbaum, confirmou que não vê necessidade de um tratado comercial exclusivo com o Canadá, defendendo a continuidade do Acordo Canadá-Estados Unidos-México (CUSMA). A posição foi transmitida esta quarta-feira durante a habitual conferência de imprensa matinal, um dia depois de ter recebido em Ciudad de México os ministros canadianos das Finanças e dos Negócios Estrangeiros.

Encontro preparatório para visita do primeiro-ministro canadiano

Os responsáveis canadianos François-Philippe Champagne (Finanças) e Anita Anand (Negócios Estrangeiros) estiveram na capital mexicana na terça-feira com o objetivo de “aprofundar a relação bilateral”, segundo declararam. A reunião serviu também de preparação para a deslocação do primeiro-ministro Mark Carney ao México, cuja data ainda não foi fixada.

Sheinbaum descreveu o encontro como “muito bom” e indicou que o reforço do comércio directo entre os dois países esteve entre os principais temas. Sublinhou, contudo, que essa cooperação avançará dentro do quadro já existente do CUSMA, afastando a hipótese de um pacto paralelo. “Temos o acordo com os Estados Unidos e o Canadá; não é necessário um tratado à parte”, afirmou.

Agenda comum inclui cadeias de abastecimento, energia e segurança

Em conferência virtual a partir da Cidade do México, Champagne classificou a visita como “muito bem-sucedida” e defendeu que a missão foi útil para “aprofundar o conhecimento mútuo”. Anand acrescentou que as delegações concordaram em elaborar um plano de trabalho centrado em cadeias de abastecimento resilientes, ligações portuárias, inteligência artificial, economia digital, energia e segurança.

Questionados sobre eventuais estratégias conjuntas para responder às tarifas norte-americanas, os ministros evitaram detalhes. Anand salientou apenas que a relação económica de cada país com os Estados Unidos “é diferente”.

Tarifas norte-americanas criam pressão adicional

A deslocação da equipa ministerial canadiana ocorre poucos dias depois de Washington ter aumentado para 35 % as tarifas sobre determinados produtos canadianos fora do CUSMA. O México, por seu lado, ganhou um adiamento de 90 dias antes da aplicação de novas taxas, após conversa telefónica entre Sheinbaum e o presidente norte-americano, Donald Trump.

Carney, que se encontrava em West Kelowna, Colúmbia Britânica, reagiu ao tema afirmando que 85 % do comércio entre o Canadá e os Estados Unidos continua isento de tarifas ao abrigo do acordo tripartido.

Setor automóvel permanece central na relação bilateral

A indústria automóvel representa um dos pilares do comércio entre Canadá e México. De acordo com a agência governamental Economic Development Canada, veículos e componentes somaram 20 % das exportações canadianas para o mercado mexicano e 37 % das importações provenientes do sul em 2023. O segmento tem sido também alvo preferencial das políticas tarifárias de Trump, que procura criar uma cadeia de produção integral nos Estados Unidos.

Além do sector automóvel, o México fornece ao Canadá frutas tropicais, equipamento de radiodifusão e dispositivos médicos, enquanto importa petróleo, gás, aço e alumínio canadienses.

Estrategia canadiana de diversificação comercial

Num comunicado à imprensa, Champagne enquadrou a visita na “estratégia mais ampla de diversificação” desencadeada por Otava face ao “protecionismo tarifário” de Washington. O ministro sublinhou que consolidar parcerias fiáveis, como a mexicana, é essencial para oferecer “maior previsibilidade” às empresas canadenses.

A ofensiva diplomática sucede a outras iniciativas recentes, como o convite de Carney a Sheinbaum para participar na próxima cimeira do G7, em Alberta, onde ambos mantiveram conversações diretas.

Sem consenso interno sobre acordos alternativos

Dentro do Canadá, a hipótese de redesenhar o enquadramento comercial norte-americano tem gerado debate. O primeiro-ministro de Ontário, Doug Ford, defendeu no ano passado um pacto bilateral apenas com os Estados Unidos, alegando que o México funcionaria como “porta traseira” para peças automóveis chinesas. A proposta recolheu apoio do antigo primeiro-ministro Justin Trudeau e da então vice-ministra das Finanças Chrystia Freeland, atualmente titular da pasta dos Transportes.

Apesar dessas vozes, Sheinbaum sustenta que o CUSMA continua a ser o instrumento adequado para reforçar o eixo México-Canadá. A presidente mexicana indicou ainda que procura fortalecer a relação com “outros parceiros”, mas sem multiplicar acordos paralelos.

Para já, Ottawa e Ciudad de México concentram-se em definir o plano de trabalho acordado esta semana, enquanto se aguarda a confirmação da data da visita de Carney. Até lá, o comércio bilateral prossegue enquadrado pelo CUSMA, numa altura em que ambos os países enfrentam desafios comuns decorrentes da política comercial dos Estados Unidos.

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