Zainab Abu Halib, de cinco meses, chegou sem vida ao Hospital Nasser, em Khan Younis, após perder mais de um terço do peso que tinha ao nascer. O caso transformou-se no exemplo mais recente das consequências da escassez de alimentos e fórmulas especiais na Faixa de Gaza, em guerra há 21 meses.
Subnutrição agrava-se entre crianças deslocadas
Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, 85 crianças e 42 adultos morreram de causas relacionadas com a desnutrição nas últimas três semanas. No hospital, o chefe de pediatria, Dr. Ahmed al-Farah, indicou que a unidade dispõe de oito camas, mas trata cerca de 60 casos de malnutrição aguda, recorrendo a colchões no chão. Um segundo ambulatório, ligado ao mesmo hospital, recebe em média 40 novos doentes por semana.
A família de Zainab vive num acampamento de deslocados. A mãe afirmou ter conseguido amamentar apenas seis semanas, devido à própria falta de alimentos. A bebé necessitava de fórmula hipoalergénica, inexistente no enclave, segundo o pai, Ahmed Abu Halib. A ausência desse produto provocou diarreia crónica, vómitos, infeção bacteriana e, por fim, septicemia, detalhou o médico.
Entraves à entrada de ajuda humanitária
Organizações médicas e humanitárias responsabilizam as restrições israelitas à entrada de alimentos, combustível e medicamentos. Depois de suspender totalmente o abastecimento durante dois meses e meio, em março, Israel autorizou a entrada de cerca de 4 500 camiões desde maio, incluindo 2 500 toneladas de alimentos infantis. O volume equivale a 69 camiões diários, muito abaixo dos 500 a 600 recomendados pelas Nações Unidas.
A ONU refere que grande parte do carregamento não chega aos destinatários porque multidões famintas e grupos armados interceptam os veículos. Paralelamente, centros de distribuição apoiados por Israel, geridos pela Gaza Humanitarian Foundation, enfrentam confrontos regulares. A partir de maio, mais de mil palestinianos foram mortos por forças israelitas enquanto procuravam comida perto desses pontos de entrega, estima o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos.

Imagem: Staff The Associated Pres via globalnews.ca
Perspetivas sombrias sem abertura de passagens
O Dr. al-Farah alertou que, se as passagens fronteiriças não forem reabertas para a entrada regular de alimentos e fórmulas especiais, “veremos números de mortes sem precedentes”. A mãe de Zainab, também subnutrida, teme que outras famílias vivam a mesma tragédia: “Os nossos filhos estão a tornar-se apenas números”, lamentou.
A população de Gaza, superior a dois milhões de pessoas, depende quase totalmente de ajuda externa, mas enfrenta uma “escassez de tudo”, de acordo com testemunhos recolhidos no hospital. A morte de Zainab tornou-se um símbolo dessa crise humanitária e expõe os riscos iminentes para milhares de crianças se o fornecimento de nutrientes adequados não for retomado com urgência.

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