Presidente Paul Biya intensifica presença digital, mas enfrenta dificuldade para engajar jovens camaroneses

YAOUNDÉ – Prestes a disputar um oitavo mandato nas eleições previstas para outubro, o presidente camaronês Paul Biya, 92 anos, reformulou a estratégia de comunicação e passou a publicar mensagens diárias no Facebook e no X (antigo Twitter). O movimento representa uma mudança significativa em relação à postura anterior, marcada por raras aparições on-line e comunicados oficiais esporádicos.

Apesar do volume crescente de publicações, especialistas em mídia afirmam que a iniciativa não tem alcançado o público-alvo principal: a juventude. Estudos recentes indicam que o país conta com mais de 5,4 milhões de usuários de redes sociais, dos quais 95% preferem o WhatsApp – ferramenta praticamente ausente do plano de comunicação presidencial. “Falta segmentação regional, interatividade e linguagem adaptada”, avalia Rostant Tane, diretor da consultoria Media Intelligence Sarl, responsável pelo Cameroon 2024 Multimedia Audience Study.

Demografia desafia estratégia

O quadro demográfico reforça a importância desse segmento. Mais de 60% da população camaronês tem menos de 25 anos, e eleitores abaixo de 30 representam pouco mais da metade do eleitorado, fator potencialmente decisivo para o resultado das urnas. Ainda assim, a abordagem digital permanece essencialmente unilateral, segundo o professor de ciências da comunicação Hervé Tiwa. “Os canais oficiais não respondem a comentários, ignoram perguntas e costumam excluir críticas”, observa o acadêmico, acrescentando que a sensação predominante é de uma campanha “cosmética”, sem participação efetiva dos seguidores.

A autenticidade também é questionada. “A maioria sabe que não é o próprio Biya quem escreve, o que amplia a distância e limita a confiança”, explica Tiwa. Para o consultor de comunicação Aristide Mabatto, a equipe passou a divulgar trechos, em francês e inglês, de mais de 300 discursos proferidos ao longo de 43 anos de governo, numa tentativa de reforçar a experiência acumulada. Uma dessas postagens recuperou fala de 2000 na qual o presidente criticava quem cobra dos outros o que não pratica; a mensagem foi publicada dois dias após um aliado histórico romper com o governo e manifestar insatisfação pública.

Demandas da juventude

Entre os eleitores mais jovens, a receptividade é limitada. O país enfrenta alto índice de desemprego, inclusive entre graduados com múltiplos diplomas, além de problemas crônicos ligados à corrupção e à segurança. “Os jovens não buscam apenas gráficos chamativos ou slogans”, ressalta a empreendedora social Falone Ngu, 27 anos, para quem oportunidades concretas e perspectivas de mudança são as verdadeiras prioridades.

No mesmo sentido, o especialista em comunicação Ulrich Donfack, também de 27 anos, defende que a comunicação política deve servir à transparência, não apenas ao marketing eleitoral. O empresário de 32 anos Che Arnold reforça a crítica: “É preciso ir além de tweets e postagens, promover reformas políticas e resolver problemas sociais reais”.

Reação pública

A ampliação da presença digital recebeu elogios de apoiadores, que veem nas publicações frequentes um sinal de vitalidade. Órgãos estatais, como o jornal Cameroon Tribune, destacaram a iniciativa como demonstração de liderança moderna. No entanto, a recepção nas próprias redes da presidência mistura ceticismo e ironia. Entre os comentários, usuários apontam que o esforço parece um “teste de mercado eleitoral” ou sugerem que “os camaroneses precisam de estradas, não de hashtags”.

A ofensiva digital ocorreu após um período de mais de seis semanas, no ano passado, em que Biya não apareceu em público, o que alimentou especulações sobre o seu estado de saúde. Para Tiwa, a atual estratégia busca recuperar o controle da narrativa e demonstrar presença constante, mesmo que, na prática, o conteúdo permaneça voltado principalmente a relembrar feitos passados.

Próximos passos

Permanecendo no poder desde 1982, Paul Biya governa um país onde grande parte dos habitantes sequer havia nascido quando ele assumiu a Presidência. O impacto da nova campanha digital na decisão dos eleitores só será conhecido após a votação de outubro. Até lá, analistas observam que a eficácia dependerá da capacidade de transformar publicações em respostas tangíveis para questões como emprego, corrupção e segurança — temas que moldam a realidade da maioria dos jovens camaroneses.

Deixe uma resposta