Articuladores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva definiram duas frentes de atuação após a instalação de tornozeleira eletrônica em Jair Bolsonaro: evitar que o ex-presidente se torne vítima aos olhos de parte do eleitorado e impedir que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, absorva o capital político do principal nome da extrema direita.
A operação da Polícia Federal realizada na sexta-feira (18) abalou o futuro político de Bolsonaro, na avaliação do governo. Policiais apreenderam US$ 14 mil em espécie na residência do ex-mandatário, que também perdeu o direito de usar redes sociais e passou a cumprir recolhimento domiciliar noturno das 19h às 7h. O entendimento no Planalto é que essas restrições, somadas ao inquérito em andamento, limitam a capacidade de mobilização do ex-presidente.
Para evitar a construção de uma narrativa de perseguição, o Palácio do Planalto recomendou que ministros evitem declarações que possam ser interpretadas como ingerência do Executivo no processo judicial. Na própria sexta-feira, Lula discursou sem mencionar o episódio, sinalizando a orientação interna de manter distância pública do caso.
Embora tente reduzir o espaço para a vitimização de Bolsonaro, o governo pretende destacar elementos que desgastem a imagem do ex-presidente. Entre eles, o dinheiro apreendido em dólares, considerado indicativo de possível tentativa de fuga para os Estados Unidos — versão negada pelo investigado. Integrantes da base planejam manter o assunto em pauta para rebater manifestações de solidariedade ao ex-mandatário e reforçar a tese de que eventuais irregularidades deverão ser tratadas no Judiciário, não na arena política.
Em paralelo, o PT e setores do governo buscam impedir que Tarcísio se descole das investigações que atingem seu principal padrinho político. A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, exemplificou essa linha ao associar o governador aos efeitos do pacote tarifário de 50% anunciado por Donald Trump contra produtos brasileiros no início do mês. Nas redes, Gleisi afirmou que não há autoridade para defender pacificação quem apoiou a taxação norte-americana, vista no Planalto como consequência de articulações do bolsonarismo no exterior.
Aliados de Lula apostam que a proibição de entrada de ministros do Supremo Tribunal Federal nos Estados Unidos, imposta pelo governo Trump, pode enfraquecer o discurso de perseguição. A medida, dizem, mostra afinidade do ex-presidente brasileiro com uma potência que, neste momento, adota sanções contra autoridades nacionais, enfraquecendo a narrativa de isolamento interno de Bolsonaro.
A equipe política do Planalto avalia ainda que manifestações de Trump ou do deputado licenciado Eduardo Bolsonaro tendem a reforçar a discussão sobre soberania nacional, tema que tem beneficiado Lula em pesquisas recentes. Ao associar a sobretaxa norte-americana ao que chama de “caça às bruxas” contra Bolsonaro, o ex-presidente dos EUA abriu espaço para o governo federal sustentar que o bolsonarismo conspira contra interesses econômicos do país.
O mesmo raciocínio vale para empresários que apoiaram Bolsonaro, veem Tarcísio como alternativa para 2026 e dependem do mercado norte-americano. Com as tarifas em vigor, esse grupo precisará negociar com o governo Lula para minimizar impactos, proporcionando ao presidente a chance de se aproximar de setores do PIB e, ao mesmo tempo, manter o governador paulista associado às controvérsias do ex-chefe do Executivo.
Dentro do PT, a orientação é concentrar esforços em temas que reforcem a imagem de Lula como defensor da justiça tributária e da soberania. A direção nacional tem instruído filiados a evitar centralizar o debate em Bolsonaro, classificando as investigações como assunto restrito ao Ministério Público e ao Judiciário.
Assessores do Planalto reconhecem que a operação policial mudou a pauta pública num momento de recuperação de popularidade do presidente, mas consideram que a ação contra Bolsonaro ocorreria de qualquer forma. O “tempo do Judiciário”, argumentam, não obedece à lógica eleitoral, e a estratégia do governo precisa adaptar-se aos fatos, reforçando a narrativa de que irregularidades serão tratadas nas instâncias competentes.
Com a combinação de cautela institucional, ênfase em soberania e exposição de vínculos entre Tarcísio e Bolsonaro, o Planalto pretende evitar que o governador paulista se consolide como herdeiro natural do espólio político bolsonarista, mantendo o foco na agenda econômica e tributária que tem rendido ganhos de popularidade a Lula.

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