Preta Gil morre aos 50 anos e encerra trajetória marcada por irreverência, carnaval e defesa da diversidade

Rio de Janeiro – A cantora e empresária Preta Gil morreu em 20 de julho de 2025, nos Estados Unidos, aos 50 anos, a menos de três semanas de completar 51. A artista enfrentava um câncer de intestino diagnosticado no início de 2023 e não resistiu às complicações da doença. Filha de Gilberto Gil, Preta construiu carreira própria ao longo de 22 anos de atividade fonográfica e se tornou um dos rostos mais reconhecidos do carnaval carioca e da cena pop brasileira.

Nascida em 8 de agosto de 1974, no Rio de Janeiro, Preta Maria Gadelha Gil Moreira iniciou a vida profissional longe dos palcos. Estagiou na agência de publicidade DM9, de Nizan Guanaes, e depois atuou na produção de videoclipes na Dueto, empresa de Monique Gardenberg. A passagem pelos bastidores reforçou uma veia empreendedora que, mais tarde, caminharia junto com a carreira artística.

O primeiro álbum, “Prêt-à-Porter”, saiu em 2003 e apresentou o sucesso “Sinais de Fogo”, composição de Ana Carolina e Antonio Villeroy. A capa, em que posou nua, chamou atenção do público e da imprensa, mas foi o repertório pop misturado a ritmos brasileiros que colocou seu nome no circuito nacional.

Dois anos depois, em 2005, veio o disco “Preta”. Ao reunir músicos de sua geração, como Betão Aguiar, Davi Moraes – autor de “Medida do Amor” – e Pedro Baby, a cantora reforçou a busca por identidade própria. Embora o trabalho tenha tido repercussão menor que o anterior, manteve a agenda de shows ativa.

Em 2007, Preta estreou o espetáculo “Noite Preta” numa pequena casa da zona sul carioca. O boca a boca entre fãs e artistas, entre eles Lulu Santos, transformou a montagem em atração fixa da boate The Week, palco emblemático da comunidade LGBTQIA+. A apresentação gerou, em outubro de 2009, a gravação do CD e DVD “Noite Preta ao Vivo”, lançados em agosto de 2010 com o hit dançante “Stereo”, mais uma parceria de Ana Carolina e Villeroy.

Paralelamente, a cantora levou sua energia para as ruas no “Bloco da Preta”, que desfilou pela primeira vez no carnaval de 2009 e rapidamente se tornou um dos cortejos mais competitivos do Rio de Janeiro. A celebração ganhou registro ao vivo em outubro de 2013, transformado no álbum e DVD “Bloco da Preta”, quinto título de sua discografia.

O quarto álbum de estúdio, “Sou Como Sou”, chegou em 2012 com repertório variado e a faixa “Batom”, escrita por Ana Carolina, Chiara Civello e Diana Tejera. Em 2017, Preta lançou “Todas as Cores”, último trabalho de inéditas. O disco destacou “Vá Se Benzer”, encontro com Gal Costa, e “Decote”, samba pop gravado com Pabllo Vittar e o cavaquinho de Dudu Nobre, reafirmando o compromisso da artista com temas ligados à pluralidade e à inclusão.

No mesmo ano, a cantora passou a integrar o quadro de sócios-fundadores da Music2Mynd, empresa voltada para música e marketing no entretenimento, ampliando a atuação empresarial que já incluía a gestão da própria carreira e de eventos.

Ao longo de duas décadas, Preta Gil destacou-se pela defesa de minorias, pela interação constante com o público nas redes sociais e por shows que misturavam pop, samba, funk e axé. O pai, Gilberto Gil, participou de gravações com a filha, como na releitura de “Drão”, de 1982, acompanhados do neto Francisco Gil, mas a cantora sempre frisou a independência de sua trajetória.

Além de Gilberto Gil, Preta deixa a mãe, Sandra Gadelha, o filho Francisco, outros familiares e uma legião de fãs que se habituaram a vê-la em trios elétricos, palcos e programas de televisão. A família não divulgou detalhes sobre velório ou sepultamento.

Com dez discos distribuídos entre estúdio e registros ao vivo, participações em projetos diversos e uma presença marcante no carnaval, Preta Gil encerra ciclo que combinou música, empreendedorismo e ativismo social. Sua obra permanece associada à festa, à liberdade de expressão e à força da diversidade cultural brasileira.

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