O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou na noite de quinta-feira uma ordem que impõe novas tarifas a 66 países, mas adiou o início da cobrança por sete dias, passando a data efetiva para 7 de agosto. A decisão substitui o prazo inicialmente fixado para esta sexta-feira e introduz mais incerteza nas empresas e nos consumidores que tentam antecipar o impacto dos novos impostos alfandegários.
Alcance das tarifas e impacto imediato
A medida abrange economias como a União Europeia, Taiwan e as Ilhas Falkland, incluindo bens avaliados em quase três biliões de dólares. Países não mencionados no despacho enfrentarão uma tarifa de base de 10 %. Entre os casos específicos, a Suíça terá uma taxa de 39 % — superior à ameaça inicial de 31 % —, enquanto o Liechtenstein verá o imposto recuar de 37 % para 15 %. México mantém-se nos 25 % durante um período negocial de 90 dias, acordado após um telefonema entre Trump e o homólogo mexicano.
Em paralelo, Bruxelas aguarda por um acordo escrito que limite a 15 % as tarifas sobre produtos europeus. Nos últimos dias, Washington fechou quadros negociais preliminares com a União Europeia, Japão, Coreia do Sul, Indonésia e Filipinas. Contudo, vários governos continuam sem indicação clara das taxas finais, mantendo a possibilidade de pactos de última hora.
Justificação presidencial e contestação legal
Trump defende que as tarifas vão gerar nova riqueza, estimular o regresso da produção industrial e reduzir o défice orçamental. Para sustentar a medida, invocou a lei de 1977 que permite declarar uma emergência nacional em matéria comercial, evitando a necessidade de aprovação do Congresso. Porém, um tribunal de recurso dos EUA debateu na quinta-feira se o presidente excedeu os seus poderes, num processo que deverá chegar ao Supremo Tribunal.
Entrevistado pela NBC, Trump afirmou que o processo decorre “muito bem” e “de forma suave”, mas admitiu rever as taxas caso surjam acordos dentro de quatro semanas. A administração contabiliza já 127 mil milhões de dólares em receitas aduaneiras este ano, cerca de 70 mil milhões acima do período homólogo, argumento usado para provar o efeito sobre o défice.
Receios económicos e reação corporativa
Economistas alertam para o risco de inflação e para o abrandamento do crescimento, uma vez que matérias-primas e bens essenciais passam a chegar mais caros às fábricas e aos consumidores norte-americanos. O índice de Despesas de Consumo Pessoal, referência para a Reserva Federal, subiu 2,6 % nos 12 meses terminados em junho, sinal de pressão inflacionista acrescida.
A indústria automóvel já mede o impacto: a Ford antecipa um encargo adicional de dois mil milhões de dólares nos resultados de 2024 devido às tarifas. No sector dos cosméticos, a francesa Yon-Ka congelou contratações, reduziu investimentos e avisou para futuros aumentos de preços.

Imagem: Jacquelyn Martin via globalnews.ca
Apesar do objetivo oficial de revitalizar o emprego, os Estados Unidos têm hoje menos 14 000 postos de trabalho na manufactura do que em abril. Esta realidade reforça as críticas de que a política comercial poderá erodir a competitividade norte-americana a médio prazo, ao mesmo tempo que força aliados a acordos considerados desfavoráveis.
Reação da banca central e cenário internacional
O receio de inflação levou a Reserva Federal a suspender cortes adicionais na taxa diretora. A decisão desagradou ao presidente, que atacou publicamente o governador Jerome Powell nas redes sociais. Para outros bancos centrais e para parceiros comerciais, o adiamento de uma semana não resolve a incerteza: a data mudou, mas as tarifas permanecem anunciadas e podem ser alteradas novamente consoante a estratégia negocial de Washington.
Enquanto isso, a China enfrenta um imposto de 30 % sobre as exportações para os EUA e aplica 10 % de retaliação, prolongando um impasse que dificulta a realocação de cadeias de produção. A Índia, alvo de uma tarifa de 25 %, receia perder parte do investimento que pretendia atrair no contexto da diversificação pós-China.
No curto prazo, o que se sabe é que, a partir de 7 de agosto, os impostos alfandegários norte-americanos deverão ficar entre os mais elevados e complexos da história recente, deixando consumidores, empresas e mercados financeiros perante variáveis ainda por definir.

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