Trump impõe tarifa extra de 25% a produtos indianos por compra de petróleo russo

O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou uma ordem executiva que acrescenta 25 % às tarifas já aplicadas a diversos produtos indianos, justificando a decisão com a manutenção das importações de petróleo russo por parte de Nova Deli. A medida eleva alguns direitos aduaneiros para níveis de até 50 % e representa a maior quebra nas relações comerciais entre Washington e Nova Deli desde o regresso de Trump à Casa Branca, em janeiro.

Escalada após colapso das negociações

O aumento tarifário surge depois de cinco rondas de negociações comerciais consideradas inconclusivas. A delegação norte-americana exigia maior abertura do mercado indiano aos setores agrícola e leiteiro, enquanto Nova Deli resistia a reduzir as compras de petróleo à Rússia, que atingiram um valor recorde de 52 mil milhões de dólares no ano passado. Face ao impasse, a Casa Branca avançou com o agravamento alfandegário anunciado esta quarta-feira.

De acordo com a ordem executiva, os novos direitos aduaneiros entrarão em vigor 21 dias após 7 de agosto, o que coloca a data efetiva em 28 de agosto. Além de duplicarem a carga fiscal sobre determinados bens, as tarifas atingem sobretudo segmentos como têxteis, calçado, pedras preciosas e joalharia, setores que representam uma fatia substancial das exportações indianas para os Estados Unidos.

Economistas salientam que poucas economias enfrentam atualmente taxas tão elevadas no mercado norte-americano. Para Madhavi Arora, da Emkay Global, “com tarifas tão onerosas, o comércio bilateral fica praticamente paralisado”.

Reação indiana e consequências económicas

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Índia classificou a decisão como “extremamente desafortunada” e garantiu que o país tomará “todas as medidas necessárias” para proteger os seus interesses. Em comunicado, Nova Deli sublinhou que as importações de petróleo obedecem a critérios de mercado e visam assegurar a energia a uma população de 1,4 mil milhões de pessoas.

Analistas alertam que o agravamento fiscal poderá afetar diretamente a receita de exportação e exercer pressão adicional sobre a rupia. Garima Kapoor, da Elara Securities, considera que “as vendas para os Estados Unidos deixam de ser viáveis nestes níveis, o que aumenta os riscos para o crescimento económico e poderá exigir novo apoio orçamental”.

Nos bastidores, responsáveis indianos admitem estar sob crescente pressão para regressar à mesa de negociações. Um possível entendimento passaria por reduzir gradualmente a dependência do petróleo russo e diversificar fornecedores, mas ainda não existe calendário para retomar as conversações.

Contexto geopolítico

A decisão norte-americana surgiu poucos dias antes da primeira visita do primeiro-ministro Narendra Modi à China em mais de sete anos, alimentando especulações sobre um possível realinhamento de parcerias asiáticas. Washington não incluiu Pequim na nova ordem executiva, apesar de a China também adquirir petróleo russo. No entanto, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, avisou recentemente que as compras chinesas poderão desencadear tarifas semelhantes, caso persistam.

Os Estados Unidos e a China permanecem, paralelamente, envolvidos em conversações para prolongar uma trégua tarifária de 90 dias que expira a 12 de agosto. Se não houver acordo, as taxas bilaterais poderão regressar a valores de três dígitos, elevando a tensão comercial global.

No plano interno norte-americano, o novo pacote tarifário coincide com debates no Congresso sobre o papel das sanções energéticas à Rússia e a sua eficácia em alterar comportamentos de terceiros países. Ao vincular o petróleo russo às relações comerciais, a Administração Trump pretende sinalizar que o cumprimento das sanções é condição prioritária para o acesso ao mercado dos Estados Unidos.

Para já, Nova Deli mantém o calendário de importações de crude e prepara medidas de mitigação destinadas às empresas exportadoras mais expostas. Especialistas sugerem incentivos fiscais e novos acordos de venda com mercados alternativos como estratégias imediatas, ainda que reconheçam a dimensão do desafio caso as tarifas entrem em vigor nos termos anunciados.

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