Três anos após início da guerra, fluxo de ucranianos para Manitoba segue constante

Três anos depois da invasão russa à Ucrânia, o número de ucranianos que buscam um novo começo em Manitoba continua a crescer. A província canadense já recebeu cerca de 30 mil cidadãos do país do Leste Europeu por meio da Autorização Canadá-Ucrânia para Viagem de Emergência (Canada-Ukraine Authorization for Emergency Travel, CUAET), programa federal criado em março de 2022 para facilitar a entrada temporária de pessoas afetadas pela guerra.

A iniciativa permitiu que 298.128 ucranianos chegassem a todo o território canadense, segundo dados do governo federal. Manitoba desponta como um dos principais destinos graças ao custo de vida relativamente mais baixo e à presença de uma comunidade ucraniana estabelecida, fatores que continuam a atrair recém-chegados e a motivar mudanças internas de outras províncias.

Experiência de adaptação em Winnipeg

Mila Shykota está entre os milhares de beneficiários do CUAET. Ela deixou a Ucrânia em agosto de 2022 e, desde então, construiu uma rotina estável em Winnipeg. A filha frequenta a escola local, o casal adquiriu uma casa e, em 2023, Shykota conseguiu retornar a Kyiv para visitar familiares e levar sua gata para o Canadá.

“Integrei-me à vida canadense, mas acompanho as notícias diariamente e mantenho contato constante com minha mãe e parentes”, relatou. Agora com residência permanente, ela observa que nem todos os conterrâneos alcançaram a mesma segurança migratória.

Desafios após o fim de apoios provinciais

Durante os primeiros meses de chegada, o governo de Manitoba ofereceu auxílio em áreas como creche e reembolso de exames médicos imigratórios. Esses programas, porém, foram encerrados, criando lacunas que organizações comunitárias tentam preencher. A presidente do Congresso Ucraniano Canadense em Manitoba, Joanne Lewandosky, afirma que o fluxo de recém-chegados permanece constante. “Na semana passada, recebemos um telefonema do Tennessee, e continua a haver consultas de pessoas atualmente na Polônia ou na Itália”, exemplificou.

Para suprir necessidades imediatas, a entidade mantém um centro de ajuda onde doações de roupas, móveis e utensílios são distribuídas aos recém-chegados. Além disso, com financiamento provincial, foram abertas turmas de língua inglesa em Gimli, Brandon, Winkler e Winnipeg. No próximo período letivo, 900 alunos iniciarão as aulas, número que, segundo Lewandosky, demonstra a demanda contínua por serviços de integração.

Situação migratória e incertezas futuras

As regras do CUAET sofreram alterações em 31 de março de 2024. Quem chegou até essa data pode solicitar permissões de trabalho ou estudo por meio de medidas temporárias. Quem desembarcou depois precisa recorrer aos trâmites regulares do Ministério de Imigração, Refugiados e Cidadania do Canadá (IRCC). Essas mudanças coincidem com o anúncio, no ano passado, de metas federais de imigração mais restritas, provocando dúvidas entre famílias que ainda buscam estabilidade.

Shykota comenta que alguns conhecidos optaram por retornar à Europa ou mesmo à Ucrânia devido à incerteza sobre o futuro no Canadá. “Há pessoas que voltaram da América do Norte para países como Polônia ou para casa”, explicou.

Impacto psicológico da guerra

Mesmo longe do conflito, a população ucraniana em Manitoba vive sob a pressão constante das notícias do front. Shykota destaca o desgaste emocional causado pela continuidade dos combates e o número diário de vítimas. “A Ucrânia mostra coragem, mas precisa de apoio internacional porque não é uma guerra que afeta apenas o nosso país”, afirmou.

Enquanto isso, a comunidade local segue mobilizada. A demanda por serviços de integração comprova que o fluxo migratório ainda não perdeu força, e as organizações comunitárias tentam compensar o fim de programas oficiais. Para muitos, Manitoba representa não apenas um refúgio temporário, mas a chance de reconstruir a vida diante de um conflito que segue sem data para terminar.

Fonte: Global News

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