Representantes da Vale enfrentaram questionamentos na Justiça da Holanda após afirmarem que oito autores de uma ação sobre o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), teriam falecido antes da tragédia de 2015. A informação foi rebatida pelos advogados dos atingidos, que levaram à corte vídeos e fotografias comprovando a existência de parte dessas pessoas.
A discussão ocorreu em audiência no Tribunal Distrital de Amsterdã, na segunda-feira (14). Na ocasião, a empresa alegou inconsistências cadastrais em 2.100 dos 75 mil demandantes representados pela fundação Stichting Ações do Rio Doce. Entre os supostos erros, destacou que oito nomes constariam como mortos antes do colapso da barragem. A declaração foi contestada imediatamente pelos escritórios Pogust Goodhead e Lemstra Van der Korst, responsáveis pela representação jurídica dos autores.
Uma das pessoas apontadas pela mineradora como falecida é a aposentada Tereza Silva Camargo, 66 anos, residente em Mucuri (BA). Para comprovar estar viva, ela gravou um vídeo enviado aos advogados, no qual relata dificuldades decorrentes da contaminação do rio Doce. A defesa apresentou o material durante a sessão e incluíu fotografias recentes da moradora, reforçando a inconsistência levantada pela Vale.
De acordo com os dois escritórios, quatro dos oito citados pela empresa continuam vivos; os demais morreram após 2015 e estão no processo por meio de familiares. Os advogados sustentam que a alegação da Vale buscou desqualificar o conjunto de reclamantes e reduzir a abrangência da ação coletiva em curso no país europeu.
O processo instaurado na Holanda em 2024 envolve moradores, empresas, instituições religiosas, municípios, comunidades indígenas e quilombolas afetados pelo desastre. A fundação Stichting Ações do Rio Doce pede cerca de 3 bilhões de euros (aproximadamente R$ 20 bilhões) em indenizações por danos socioambientais, econômicos e humanos provocados pela lama de rejeitos que atingiu o leito do rio Doce e regiões costeiras do Espírito Santo.
Cerca de 170 mil outras pessoas manifestaram interesse em aderir ao litígio holandês. O caso é independente da ação coletiva que tramita em Londres contra a BHP, controladora da Samarco ao lado da Vale, cujo montante pleiteado pode chegar a R$ 260 bilhões.
Além de contestar as supostas inconsistências cadastrais, a representação dos atingidos sustenta que Vale e Samarco tiveram participação direta nos danos ao aceitarem volumes considerados excessivos de rejeitos na barragem. Os advogados afirmam que a subsidiária holandesa da Samarco geria a comercialização internacional do minério extraído em Minas Gerais, enquanto a Vale teria contribuído para a sobrecarga da estrutura que se rompeu.
Procurada, a Vale informou que se pronuncia exclusivamente nos autos, posição que mantém quanto às alegações feitas na audiência desta semana. A mineradora e a Samarco seguem respondendo às demandas da Justiça holandesa e a outras ações relacionadas ao rompimento da barragem, que deixou 19 mortos e vasto passivo ambiental ainda em processo de reparação.

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