O corpo humano não espera pelo primeiro espirro para iniciar os seus mecanismos de proteção. Investigadores suíços demonstraram que a simples observação de sinais de doença desencadeia, em segundos, respostas coordenadas entre cérebro e sistema imunitário, mesmo sem existir contacto físico com o agente infeccioso.
Imagens de doença provocam resposta cerebral imediata
A equipa da Universidade de Genebra reuniu 41 voluntários para um ensaio em realidade virtual. Cada participante foi exposto a cenários que simulavam pessoas com sintomas gripais, como tosse ou espirros, enquanto eram monitorizados por electroencefalograma e ressonância magnética funcional.
Quando o avatar doente se aproximava, as imagens cerebrais mostravam a activação de redes ligadas à detecção de ameaças. Paralelamente, análises sanguíneas indicaram aumento do fluxo de células linfoides inatas, a primeira linha de defesa contra infecções reais. O trabalho, publicado a 28 de Julho na revista Nature Neuroscience, confirma que o organismo avalia o risco de contágio a partir de pistas visuais e antecipa a resposta imune antes de qualquer exposição directa.
Segundo os autores, esta reacção antecipada permite preparar tecidos e mediadores químicos para neutralizar eventuais patógenos logo no início do processo, reduzindo a probabilidade de instalação da doença.
Comportamentos semelhantes observados em animais
A ideia de uma “imunidade preventiva” não se restringe à espécie humana. Em 2023, a bióloga portuguesa Patrícia Lopes analisou registos de várias espécies e concluiu que a visão de indivíduos doentes leva animais saudáveis a ajustar fisiologia e comportamento.
No caso das codornas, fêmeas expostas visualmente a congéneres infectadas, mas separadas por vidro, alteraram ciclos reprodutivos e produziram ovos com níveis elevados de hormonas do stress. Esta estratégia parece reduzir o nascimento de crias em ambientes de alto risco, aumentando a sobrevivência do grupo.
Nervos controlam células de defesa
Outro contributo para compreender a ligação entre cérebro e imunidade veio de um estudo do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo. Publicado em Maio na revista Brain, Behavior, and Immunity, o trabalho demonstrou que a estimulação artificial do nervo esplâncnico — responsável por inervar regiões torácicas e abdominais — fortalece a acção dos neutrófilos, células que atacam invasores logo nas primeiras horas de infecção.

Imagem: metropoles.com
Ao manipular electricamente esse nervo em modelos animais, os cientistas observaram resposta imune mais rápida e localizada, sem aumento significativo de inflamação sistémica. Os autores sugerem que a descoberta pode abrir caminho a terapias que potenciem defesas naturais e, ao mesmo tempo, minimizem danos colaterais.
Como o sistema imunitário se organiza
O sistema de defesa do organismo integra duas frentes principais. A imunidade inata actua de imediato, reconhecendo padrões genéricos presentes em microrganismos; a adaptativa cria memória específica para cada ameaça, através da produção de anticorpos por linfócitos B e da acção dirigida de linfócitos T.
A comunicação com o sistema nervoso central é essencial para coordenar onde e quando mobilizar recursos. O trabalho suíço reforça a noção de que o cérebro funciona como central de alerta, capaz de interpretar sinais ambientais e enviar ordens para células periféricas mesmo antes de existir contacto com o agente infeccioso.
Estrategias para apoiar as defesas naturais
Embora o organismo disponha de mecanismos sofisticados, hábitos diários continuam a ser decisivos para manter as defesas em níveis óptimos. Especialistas recomendam:
- Alimentação equilibrada, com destaque para fontes de vitaminas C e D, zinco e ómega 3;
- Prática regular de actividade física moderada;
- Manutenção de sono adequado, idealmente entre 7 e 9 horas por noite;
- Hidratação suficiente ao longo do dia;
- Gestão do stress, através de técnicas de relaxamento ou apoio profissional;
- Vacinação em conformidade com o plano nacional e as indicações médicas.
A identificação precoce de sintomas e a procura de aconselhamento clínico permanecem fundamentais para limitar a propagação de infecções e evitar complicações.

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