São Paulo – A crença de que doses extras de vitamina C seriam capazes de afastar gripes e resfriados atravessa gerações e costuma ganhar força em períodos de mudança de temperatura ou em surtos de doenças respiratórias. Entretanto, levantamentos científicos conduzidos nas últimas décadas indicam que o nutriente, embora essencial para o organismo, não atua como escudo capaz de prevenir a infecção nem de encurtar de forma substancial a duração dos sintomas.
A vitamina C, tecnicamente chamada de ácido ascórbico, é solúvel em água e não pode ser produzida pelo corpo humano. Por isso, necessita ser obtida diariamente por meio de frutas cítricas, vegetais frescos ou suplementos. A substância participa da síntese de colágeno, contribui para a cicatrização de tecidos, age como antioxidante e oferece suporte ao funcionamento de diversas células do sistema imunológico.
Nesse contexto, argumenta-se que um aporte elevado da vitamina fortaleceria as defesas naturais e, consequentemente, impediria a ação de vírus responsáveis por resfriados comuns ou pela gripe. O mecanismo, entretanto, não se confirma em revisões sistemáticas. Ensaios clínicos randomizados com voluntários saudáveis mostraram que a ingestão contínua do nutriente, em doses acima das recomendações diárias, não reduz a incidência de novos episódios dessas infecções respiratórias.
Em relação à duração da doença, os resultados também são limitados. Metanálises revelam que a suplementação regular pode diminuir em média 8 % do tempo de recuperação em adultos e 14 % em crianças – diferença considerada discreta e clinicamente modesta. No cenário em que a vitamina é administrada somente após o aparecimento dos primeiros sintomas, os estudos não registram benefício estatisticamente significativo.
Especialistas lembram que o sistema imunológico se organiza em duas grandes linhas de defesa: a resposta inata, que age de forma rápida contra invasores, e a adaptativa, que cria anticorpos específicos. A vitamina C colabora na manutenção das barreiras epiteliais e no funcionamento adequado de células como neutrófilos e linfócitos, mas sua presença, por si só, não amplia ilimitadamente a capacidade dessas estruturas nem garante proteção completa contra vírus sazonais.
A ingestão acima de 2 g por dia não eleva a eficácia contra gripes e pode provocar efeitos adversos, entre eles diarreia, dor abdominal e aumento do risco de formação de cálculos renais em indivíduos suscetíveis. As recomendações de consumo para adultos ficam entre 75 mg e 90 mg, valores que podem ser alcançados com uma alimentação variada que inclua laranja, acerola, goiaba, pimentão, brócolis e outras fontes naturais do nutriente.
Médicos e nutricionistas ressaltam que a proteção diante de vírus respiratórios depende de um conjunto de fatores. Vacinação anual contra influenza, higiene frequente das mãos, ventilação de ambientes, descanso adequado, prática regular de atividade física e dieta equilibrada formam o conjunto de estratégias mais eficiente para reduzir a probabilidade de adoecimento e atenuar quadros já instalados.
Em síntese, a vitamina C permanece indispensável para diversas funções do organismo e deve ser consumida diariamente, mas as evidências acumuladas não sustentam seu uso como medida isolada para evitar gripe ou resfriado. A manutenção de hábitos saudáveis e de políticas públicas de prevenção continua sendo o caminho principal para conter a circulação de vírus respiratórios e proteger a população.
Fonte: NCBI

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